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Mais da metade do salário mínimo dos brasileiros fica na cesta básica

A cesta básica é um conjunto de alimentos essenciais para a sobrevivência de milhões de brasileiros e que ajuda a garantir que as pessoas tenham acesso a uma alimentação de qualidade e em quantidade suficiente para suprir as necessidades nutricionais básicas.

Uma família que ganha um salário mínimo precisa gastar cerca de 60% do rendimento apenas para adquirir os alimentos básicos

Composta por itens como arroz, feijão, carne, entre outros, a cesta básica, para muitos brasileiros de baixa renda, representa uma parte significativa do orçamento familiar.

No ano de 2022 a cesta básica registrou um preço médio de aproximadamente R$ 705,55, quando avaliadas todas as 17 capitais brasileiras que foram alvo de um estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). As cidades envolvidas no levantamento foram Aracaju, Belém, Belo Horizonte, Brasília, Campo Grande, Curitiba, Florianópolis, Fortaleza, Goiânia, João Pessoa, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Vitória.

Quando se fala em custos essenciais de uma população, é importante traçar um paralelo com a renda das pessoas, para entender mais a respeito do poder de compra dos trabalhadores em um país. Portanto, em 2022, o salário mínimo no Brasil era de R$ R$ 1.212,00, enquanto o valor médio da cesta básica entre as capitais foi de R$ 705,55. Isso significa que uma família que ganha um salário mínimo precisa gastar cerca de 58,1% do rendimento apenas para adquirir os alimentos básicos necessários para a subsistência. Em 2021, no país, essa relação era de 33,1%.

Neste cenário em que uma família utiliza mais da metade da renda apenas para comprar a cesta básica, é provável que outros gastos importantes do orçamento fiquem comprometidos. Esses custos incluem, por exemplo, o pagamento de aluguel, contas de água, luz e telefone e prestações da casa própria, além das despesas com saúde e educação. Com dificuldades para organizar o orçamento, a família pode precisar, muitas vezes, escolher entre arcar com as contas básicas ou adquirir outros produtos e serviços essenciais para a alimentação no dia a dia.

Com o baixo salário e alto custo da cesta básica no país, muitas famílias acabam recorrendo a algumas medidas para conseguir pagar a “sobrevivência” ao longo do mês. Uma das alternativas utilizadas para quem tem dificuldades em adquirir a cesta básica é obter crédito através da contratação de um empréstimo pessoal de emergência. Contudo, essa pode não ser uma opção viável para muitos brasileiros, sobretudo para aqueles de baixa renda. Isso porque o empréstimo realizado sem programação por parte do contratante pode aumentar ainda mais o endividamento das famílias, devido aos juros praticados ao longo dos meses.

Se por um lado os custos da cesta básica podem parecer altos, por outro, o impacto desse valor pago na vida dessas famílias é significativo. Isso porque esses alimentos são essenciais para combater a fome e a desnutrição, que ainda são problemas graves no Brasil. Em 2022, mais de 33 milhões de brasileiros estavam em situação de insegurança alimentar, de acordo com o Segundo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19.

Cesta básica na pandemia

Apesar do esforço do governo em manter o valor da cesta básica acessível, muitas famílias ainda têm dificuldade em adquiri-la devido à falta de renda suficiente. Esse problema foi agravado ainda mais pela crise econômica causada pela pandemia da Covid-19, que aumentou os índices de desemprego e inflação. Em 2022, Goiânia registrou o maior aumento no valor dos alimentos essenciais e a cesta básica teve alta de 17,9% em relação ao ano anterior. A segunda maior alta aconteceu em Brasília, 17,2%, seguido de Campo Grande (16%) e Belo Horizonte (15%).

Com o aumento no valor dos alimentos, é comum ver famílias que optam por substituir alguns alimentos tradicionalmente consumidos por outros mais baratos.

Poder público pode ajudar?

Diante desse cenário, é importante que o governo continue investindo em políticas públicas para garantir o acesso à cesta básica e melhorar a qualidade dos alimentos oferecidos. No Brasil, medidas como o Programa Bolsa Família, por exemplo, oferecem um auxílio financeiro a famílias de baixa renda para garantir sua subsistência, enquanto o Programa Nacional de Alimentação Escolar garante uma alimentação saudável e nutritiva para alunos da rede pública de ensino.

É importante que o governo promova políticas que ajudem a reduzir o valor da cesta básica e, com isso, a necessidade do endividamento das famílias para garantir o acesso à alimentação básica e essencial para a vida.

Brasil passou da 35ª para a 52ª posição em dois anos no ranking mundial de custos da cesta básica

De acordo com o ranking desenvolvido pela plataforma de e-commerce Picodi que faz a relação de porcentagem entre o valor da cesta básica e o salário mínimo, o Brasil ocupava a 35ª posição dentre os 56 países estudados em 2021.

Uma nova pesquisa realizada pela mesma plataforma, no ano de 2023, mostra que a cesta básica compromete uma porcentagem ainda maior do salário do brasileiro após dois anos. Se em 2021 o levantamento apontava que 33,1% do salário era comprometido com a cesta básica, o novo estudo mostra que, em 2023, 37,8% dos rendimentos formais do trabalhador são utilizados para arcar com os alimentos básicos.

Neste cenário, o Brasil passa a ocupar o 52º lugar no ranking de países, ficando à frente da Ucrânia, com 42,8%, Rússia (45,5%) e Indonésia (50,8%). O Reino Unido, Irlanda e Austrália seguem liderando o ranking, com o menor comprometimento de salário para pagar a cesta básica mensal.

Grã-Bretanha, Austrália e Irlanda são os três países que se destacam no levantamento, com a cesta básica custando menos de 8% do salário mínimo da população. Do outro lado, o salário mínimo na Nigéria não consegue comprar a cesta básica, exigindo mais de 100% dele para poder acessar o básico.

Editora Contadora Analista Melisa Murialdo
Edição
Content Analyst Melisa Murialdo

Fontes de informação

Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese)
Ministério da Previdência Social
Blog de empréstimos OMT
Senado Federal
Picodi