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Casos de Malária podem se intensificar entre população indígena durante a pandemia

Com a determinação do isolamento nas aldeias, a tendência é um aumento de casos da doença, que acomete principalmente povos indígenas na região Amazônica

No mês em que é celebrado o Dia Mundial da Luta contra a malária (25/4), o Hospital Bom Pastor (HBP), unidade própria da Pró-Saúde em Guajará-Mirim (RO), alerta sobre os riscos da doença, principalmente para a população indígena, que está isolada nas aldeias por conta da pandemia do novo coronavírus.

A unidade é referência de atendimento para 54 aldeias da região, das quais cerca de 90% só é acessível por meio fluvial, que concentram uma população de cerca de 6,2 mil indígenas.

A malária é uma doença infecciosa, transmitida por mosquitos e causada por protozoários parasitários do género Plasmodium.  Após a picada da fêmea do mosquito transmissor, geralmente o Anopheles, a doença tem um período de incubação de 7 a 14 dias.

Os sintomas mais comuns são febre alta, calafrios intensos, tremores, sudorese, perda de apetite e cefaleia. A cura é possível quando a doença é tratada em tempo e de forma adequada. No entanto, sem os devidos cuidados, pode se tornar ainda mais grave e causar a morte.

As regiões mais afetadas no Brasil, segundo o Ministério da Saúde (MS), são os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. De acordo com a Fiocruz, 99% dos casos autóctones do país são registrados na Região Amazônica.

Em Rondônia, onde o Hospital Bom Pastor está localizado, o número de casos aumentou 40% nos últimos três anos, segundo a Secretária de Vigilância em Saúde (SVS).

A diretora Técnica do Bom Pastor, Márcia Guzman, explica por que os índios são mais propícios para contrair a doença. “O habitat do Anopheles, mosquito que transmite a malária, é na mata e os indígenas também vivem neste ambiente. Por isso, os povos indígenas são mais acometidos pela doença, principalmente os mais jovens, que adentram a floresta para pescar, caçar ou colher”.

Apenas de 2019 até o momento, 28 pacientes foram diagnosticados com malária na unidade, sendo 13 homens e 15 mulheres, todos indígenas. A situação pode se agravar por conta da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), com aumento no número de casos de malária entre os indígenas, já que por determinação do Governo Federal, estão isolados nas aldeias.

“Os índios estão proibidos de sair das aldeias por conta da Covid-19. Com isso, ações como pescar e caçar podem ser intensificadas para manter o sustento dessa população, e a doença pode se alastrar, principalmente entre os mais jovens”, explica a diretora.

Marcia Guzman, realizando atendimento na tribo índigena

Testes são rotina no Hospital

No Hospital Bom Pastor, os testes para diagnóstico da doença são recorrentes, pois todo o cenário é levado em consideração. “Aqui na unidade é rotina testar para malária, principalmente os pacientes indígenas, independentemente da idade. Todos que dão entrada com histórico de febre realizam a coleta para teste de plasmodium”, afirma Guzman.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2018, a Malária atingiu 228 milhões de pessoas e matou cerca de 405 mil no mundo. Casos da doença são registrados durante todo o ano, porém, a transmissão se intensifica na época da colheita das castanhas, no primeiro trimestre do ano. Durante este período, toda a família costumar ir para dentro da floresta, ficando mais vulnerável do que se permanecessem dentro das malocas (cabana comunitária utilizada por nativos indígenas da região amazônica).

Acolhimento personalizado

As mais de 50 aldeias da região que são atendidas pelo Hospital Bom Pastor possuem características próprias e uma das preocupações da unidade é oferecer atendimento em saúde, respeitando as diferenças culturais.

Por isso, o Bom Pastor oferece recursos específicos, com profissional técnico em Enfermagem indígena, com fluência no dialeto para facilitar a comunicação; serviço de nutrição voltada aos hábitos alimentares indígenas; implantação de uma horta medicinal, para atender a cultura das aldeias com tratamento fitoterápico.

A unidade também conta com outras adaptações especialmente para acolhimento dos índios, como  o ambiente com uma oca indígena, construída para humanizar o atendimento dos pacientes e visitantes, buscando trazer para dentro do hospital um local próximo do vivido nas aldeias e instalação de redes nas enfermarias.

Tipo da doença e tratamento

Existem três tipos de Malária.

Plasmodium ovale: É mais rara e substancialmente menos perigosa, típica do continente Africano.

Plasmodium vivax: é a causa mais comum e disseminada de malária. Atinge somente 1% das hemácias, mas aloja-se no fígado e pode ficar incubada no órgão, dificultando a sua eliminação.

Plasmodium falciparum: É o tipo mais grave, pois se multiplica rapidamente na corrente sanguínea e acomete muitas hemácias e os glóbulos vermelhos. Em alguns casos, se formam pequenos coágulos, que podem causar trombose e embolias em diversos órgãos.

Até o momento, não existe vacina contra a doença. Após o diagnóstico, o paciente deve seguir o tratamento ambulatorial via oral, sem interrupção e sempre observando a presença de gametócitos no fígado, para não existir recaída. Os medicamentos são disponibilizados no Sistema Único de Saúde (SUS), de forma gratuita. Apenas os casos mais graves são hospitalizados.

Sobre a Pró-Saúde

A Pró-Saúde é uma entidade filantrópica que realiza a gestão de serviços de saúde e administração hospitalar há mais de 50 anos. Seu trabalho de inteligência visa a promoção da qualidade, humanização e sustentabilidade.

Com 16 mil colaboradores e mais de 1 milhão de pacientes atendidos por mês, é uma das maiores do mercado em que atua no Brasil. Atualmente, realiza a gestão de unidades de saúde presentes em 24 cidades de 12 Estados brasileiros — a maioria no âmbito do SUS (Sistema Único de Saúde). Atua amparada por seus princípios organizacionais, governança corporativa, política de integridade e valores cristãos.

A criação da Pró-Saúde fez parte de um movimento que estava à frente de seu tempo: a profissionalização da ação beneficente na saúde, um passo necessário para a melhoria da qualidade do atendimento aos pacientes que não podiam pagar pelo serviço. O padre Niversindo Antônio Cherubin, defensor da gestão profissional da saúde e também pioneiro na criação de cursos de Administração Hospitalar no País, foi o primeiro presidente da instituição.