Existem cerca de 463 milhões de adultos com diabetes no mundo, segundo dados do Atlas de Diabetes da International Diabetes Federation (IDF) de 2019. A previsão é que o número total de pessoas com diabetes aumente para 578 milhões em 2030 e, em 2045, suba para 700 milhões.
Os números são alarmantes e chamam ainda mais atenção no contexto da Covid-19, pandemia que coloca pessoas com diabetes dentro do grupo de risco, se infectadas pelo novo coronavírus.
Conheça os tipos de diabetes
O pâncreas é um órgão intra abdominal que tem funções tanto endócrinas, com os conjuntos de células denominados Ilhotas de Langerhans, e exócrinas, por meio das enzimas gastrointestinais. A função endócrina tem como principal papel produzir insulina (células beta) e glucagon (células alfa).
Durante a passagem da glicose pelos enterócitos gástricos no intestino delgado, existe a concomitante produção de um hormônio gastrointestinal denominado GLP1. Este hormônio estimula a produção e secreção de insulina, além de realizar a supressão da secreção do glucagon que, por sua vez, realiza a estimulação da neoglicogênese hepática, processo que libera glicose no sangue.
Devido a mutações ou fatores extrínsecos, em algumas pessoas, o sistema imunológico deixa de reconhecer e passa a atacar equivocadamente as células beta e/ou a própria insulina. Logo, pouca ou nenhuma insulina passa a ser produzida e liberada para o corpo.
Como resultado, temos a elevação da glicemia no sangue, com consequente utilização das lipoproteínas, gerando um desequilíbrio cetoacidótico, denominado como cetoacidose diabética. Esta patologia é o Tipo 1 de diabetes, que concentra entre 5 e 10% do total de pessoas com a doença. De acordo com James Hugo Grüdtner, médico endocrinologista que integra o corpo clínico do Hospital Dona Helena, de Joinville (SC), o Tipo 1 aparece geralmente na infância ou adolescência.
“Pode ser desencadeado por fatores ambientais, como infecções virais. Também pode advir de um quadro de estresse e trauma, ou ser um efeito colateral de outro tratamento médico (iatrogenia), devido à ação de imunossupressores biológicos”, detalha, lembrando que o fator genético pode também desencadear este tipo de diabetes, mas em menor grau.
Já o Tipo 2 aparece quando ocorre a redução da produção do hormônio GLP1 dos enterócitos (células epiteliais) associados ao aumento da resistência insulínica periférica, gerando a descompensação ou elevação dos níveis glicêmicos no sangue. Cerca de 90% das pessoas com diabetes têm o Tipo 2, apresentando a maior prevalência em torno da quarta década de vida.
“Neste caso, o fator hereditário, pela genética familiar, é o fator mais importante. A obesidade também pode ser um agente potencializador, devido ao aumento da resistência insulínica periférica. O hipercortisolismo, desordem endócrina causada por níveis elevados de glicocorticóides, também pode provocar potencializar o Tipo 2”, frisa o especialista.
Além dos dois tipos de diabetes apontados, o médico também alerta para o diabetes gestacional, geralmente desencadeado após a 24ª semana de gravidez (início do 6º mês), por conta das mudanças recorrentes na gestação.
O diabetes gestacional atinge cerca de 17% das gestantes, geralmente as que têm acima de 35 anos. Fatores como antecedente familiar com Tipo 2 de diabetes, até a primeira geração, ou com diabetes gestacional anterior, obesidade ou sobrepeso, e intolerância prévia à glicose podem aumentar as chances de se desenvolver este tipo de diabetes durante a gravidez.
Bons hábitos podem controlar a doença
De acordo com o endocrinologista, os principais sintomas de diabetes são poliúria (micção excessiva), polidipsia (sensação de sede excessiva), noctúria (micção noturna) e turvação visual pós-prandial (após refeição). A detecção e diagnóstico são feitos por meio de exames periódicos de glicemia ou por suspeita clínica.
“As lesões provocadas de glicotoxicidade e pela glicosilação proteica ocorrem quando temos a glicemia superior a 200 mg/dl no sangue. Este processo é silencioso (assintomático), levando à modificação da microcirculação arterial e, posteriormente, à macrocirculação”, aponta.
O diabetes não tem cura, porém pode ser controlado, dependendo de sua gravidade, ao se adotar atividade física regular e planejamento alimentar. Em alguns casos, é necessário o uso de insulina e/ou outros medicamentos para controlar a glicose.
“Cuidados alimentares, adoção de bons hábitos, de maneira geral, e visita periódica a um especialista (endocrinologista), evitando as grandes oscilações glicêmicas, resultará como prevenção no desenvolvimento das complicações crônicas da doença”, assegura o endocrinologista.
“Quanto à genética não temos como prevenir, porém fatores como sedentarismo, obesidade, tabagismo, dislipidemias e hipertensão arterial são agravantes que potencializam o descontrole metabólico glicêmico”, alerta.