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ONG lança projeto e leva atividade física ‘virtual’ a idosos na periferia

A Covid-19 causou uma mudança radical na vida das pessoas, e entre os idosos a ameaça da doença se fez sentir de forma mais aguda. Como estão entre aqueles que correm maiores riscos se forem contaminados pelo novo coronavírus, a necessidade de isolamento forçou desde a suspensão de tratamentos para evitar idas ao hospital até o fim de atividades ao ar livre – interrompendo exercícios físicos. A consequência disso foi não só um sedentarismo muito prejudicial como um aumento no sentimento de solidão.

Para aliviar essa condição, a ONG Instituto Sempre Movimento lançou o programa Envelhecer Sustentável, de promoção de saúde para idosos em ILPIs (Institutos de Longa Permanência de Idosos) e comunidades em diversos pontos do país. O programa, que leva atividades físicas on-line para esse público, foi lançado no dia 15/09, na Morada São João – no centro da capital paulista -, a maior instituição pública de acolhimento do Estado, com 210 moradores. A atividade ainda foi transmitida ao vivo para as comunidades João XXIII e Vila Nova Curuça (regiões Oeste e Leste de São Paulo, respectivamente) e outras em Guarulhos e Itapevi (ainda em SP) e em Goiânia (GO) e Rio de Janeiro (RJ).

“Foi algo histórico e marcante ver como o movimento transpõe limites sociais e estruturais. Estávamos lá chegando em casebres com condições muito simples mas absolutamente imbuídos de um propósito para entregar o melhor em saúde para todos”, disse a diretora do instituto, Amanda Costa.

O projeto teve início com 6 professores e a meta para setembro é oferecer as sessões on-line de atividade física de forma continuada a 100 idosos. A expectativa é atender pessoas em todos os estados do Brasil. A aulas serão ministradas sempre duas vezes por semana de forma contínua e ininterruptas diretamente com o professor orientando toda a turma. Trata-se, portanto, de um programa devolvido para colher frutos de uma velhice saudável e funcional.

O grupo de participantes conta com conexão de internet em casa e equipamento para assistir as aulas – seja pelo computador ou mesmo pelo celular. “Vamos oferecer um programa que consiste em atividades físicas de forma regular, duas vezes por semana, e teremos professores que vão prestar o melhor programa de atividade física, algo a que esses idosos jamais teriam acesso”, disse Amanda.

Ela destaca que os professores são profissionais que atendem algumas das principais redes de academias do país, como Cia Athletica e Competition. Amanda diz que os profissionais convidados para oferecer as atividades físicas se entusiasmaram com a iniciativa. “Por eles, daríamos aulas a dez ou cem vezes mais idosos. Todos ficaram muito animados com a ideia e querem ver o projeto ganhar alcance nacional”, diz.

Os idosos foram escolhidos por lideranças das comunidades. Muitos deles já eram atendidos pelo ISM antes da quarentena. Para ingressar no programa, todos passaram por uma avaliação prévia chamadas “Health Analytics” com equipe especializada, para entender as demandas físicas e clínicas e determinar pontos para analise de evolução nos quesitos de saúde.

As aulas acontecem por meio de ferramentas de conferência on-line. Daí, basta o participante clicar no link que receberá e entrar na conferência no dia e hora marcados. A ONG busca parceria ainda com operadoras de telefonia, para que mesmo idosos que hoje não contem com conexão à internet em casa possam ter como participar.

Ela diz que o programa também vai oferecer palestras educacionais com médicos e professores renomados, como o obstetra e ginecologista Marco Antonio Lenci, do Hospital Israelita Albert Einstein e do renomado professor de educação física, Márcio Atalla, além de doação de suplementos vitamínicos.

Cuidado para além da pandemiaAmanda afirma que o projeto não é uma iniciativa pontual: o programa de atividades físicas vai continuar mesmo depois que o isolamento social tiver acabado. “Vamos implantar o programa e ele vai permanecer. A ação é sustentada”, ela diz.

O ISM foi a primeira organização do terceiro setor a atuar na prestação de auxílio a ILPIs (Instituições de Longa Permanência para Idosos). No início da pandemia, as ações contavam com poucas doações de insumos como álcool em gel, barras de sabonete, máscaras, luvas, face shields e toucas. O material era levado para instituições tanto públicas como filantrópicas e privadas, nas periferias de São Paulo. “Das 40 iniciais, avançamos hoje para 140 em SP, na capital, no interior e no litoral, com mais de 5.800 pessoas em situação de vulnerabilidade”, afirma Amanda – que acrescenta que o apoio do ISM deve chegar a 210 instituições nas próximas semanas.

O mapeamento das ILPIs mais necessitadas foi feito com apoio da promotora do Idoso do MP-SP (Ministério Público de São Paulo), Cláudia Maria Beré. “Muitas vezes, esses locais contam apenas com os recursos que levamos a eles”, diz. “Não se pode tratar e cuidar de idosos em regiões carentes apenas nos momentos de urgência. A luz que se apontou para a situação dessa população por conta da pandemia precisa continuar a pontada para eles, que formam uma população das mais desassistidas. Estamos falando que o envelhecimento não é apenas um fenômeno biológico, mas uma categoria social, e como tal deve ser tratada”.

O ISM ainda atua em parceria com o Hospital o Samaritano e o Instituto Horas da Vida na prestação de atendimento sustentado a 20 ILPIs na periferia de SP, alcançando 600 idosos. Nesse trabalho, já desenvolvido há seis meses, são entregues testes PCR para covid-19 (realizados tanto nos idosos como nos cerca de 240 funcionários que trabalham em todas essas unidades), EPIs e álcool em gel, e é feita a desinfecção de cada local. Além disso, oferecem palestras e orientação, monitoramento periódico nos locais e mantêm centrais de enfermagem.

Parceiros
Ela destaca o apoio conquistado desde o início da ação: “No início, tínhamos de pedir tudo. Era bater de porta em porta, e o apoio era muito pouco”. Mas o esforço encontrou reconhecimento de parceiros como BMW, que ofereceu os veículos para o transporte dos insumos às instituições. Além disso, a Droga Raia forneceu o álcool em gel e a Hypera Farma, que forneceu vitamina D, para reforçar o sistema imunológico dos idosos.

Costureiras
Amanda também destaca que o ISM vem promovendo uma ação de geração de renda para costureiras idosas em Paraisópolis: o instituto custeia a produção de máscaras de tecido, que são então distribuídas nas ILPIs. “Com isso, você gera renda que se reverte em atividade econômica para toda uma comunidade: elas fazem compras nas mercearias locais, que compram de fornecedores, que empregam pessoas. É um ciclo virtuoso”.

O material para a confecção das máscaras inclusive é doado por outras oficinas de costura da capital paulista – então as costureiras de Paraisópolis não têm custo. A ação já produziu 4 mil máscaras em Paraisópolis e distribuiu 20 mil, recebidas como doação. “Temos lá costureiras que ficaram absolutamente sem renda. Prontas para trabalhar, profissionais habilidosas, mão de obra qualificada. É preciso não deixar essa roda parar”, disse Amanda.