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Número de traumatismos cranianos em crianças explode e médico fala em nova doença da pandemia

Crédito: Camila Hampf

O maior hospital exclusivamente pediátrico do Brasil, o Pequeno Príncipe, localizado em Curitiba (PR), tem registrado uma explosão no número de quedas de crianças com consequente traumatismo craniano. Enquanto em 2020 foram registrados 100 casos no Pronto-Atendimento da instituição, em 2021 os registros até novembro já somam 254. Já as situações em que a criança necessitou de internamento e cirurgia também cresceram: o total de 10 registrado ano passado, subiu para 27 até agora. Ou seja, um aumento de 170%. Segundo a ONG Criança Segura, as quedas estão entre os principais acidentes domésticos que afetam crianças brasileiras.

Foi o que aconteceu com o pequeno Theo da Silva Fabris, de apenas 7 meses. Ele teve um afundamento de crânio ao cair da cama e bater a cabeça no criado-mudo. “Eu costumo deixar ele no berço com a grade abaixada para ficar na altura da minha cama e, depois de dar de mamar, eu o coloco no berço novamente, e geralmente ele dorme. Neste dia, no entanto, ele não dormiu. Eu estava fazendo algumas planilhas, e ele foi para a minha cama, de onde caiu”, conta a mãe, Ane da Silva, que é assistente administrativa e trabalha no período da manhã.

Segundo ela, ao passar a mão na cabeça do garoto, sentiu o afundamento e imediatamente ligou para sua mãe pedindo ajuda. Ao chegar ao Hospital Pequeno Príncipe, Theo foi avaliado e logo encaminhado a um neurocirurgião, que indicou a cirurgia. “O médico disse que de imediato o afundamento não representava um problema, mas quando ele crescesse o afundamento iria comprimir o cérebro. Por isso era importante fazer a cirurgia. O procedimento foi realizado no dia seguinte, e agora Theo já se recupera em casa.”

Doença da pandemia

De acordo com o neurocirurgião pediátrico Adriano Maeda, a explicação para essa explosão de casos está no novo modelo de vida das famílias. “As famílias estão sobrecarregadas, trabalhando de casa, com filhos para cuidar, comida para preparar, casa para organizar… É uma nova doença da pandemia. Não se trata de uma negligência deliberada, mas de uma situação de limite no qual as famílias são tão vítimas quanto as crianças”, analisa.

Foi exatamente o que aconteceu com a mãe de Theo. Ela precisa trabalhar e, sem vaga na creche, concilia o trabalho com os cuidados ao filho. “A minha sorte é que eu trabalho só meio período e estou podendo fazer home office. Não sei como eu faria se tivesse que trabalhar o dia todo”, revela.

Gravidade maior em bebês

A maioria das crianças atendidas no Pequeno Príncipe que necessitaram de internamento e até mesmo de cirurgias neurológicas em função das quedas tinha até 2 anos de idade. Das 21, 11 estavam nessa faixa etária, ou seja, 52%. “Os acidentes domésticos são sempre um risco às crianças. No caso dos traumatismos cranianos, a grande maioria dos casos não gera consequências graves, mas quando falamos de crianças muito pequenas, o crânio é ainda frágil, fino e faz com que haja uma exposição maior a lesões cerebrais, hemorragias cerebrais e mesmo a fraturas. Nessa faixa etária não é necessário cair de grandes alturas ou sofrer fortes impactos para que aconteça um dano grave”, reforça o especialista.

Ainda de acordo com o médico, o tipo de queda e o tempo decorrido até conseguir ajuda médica podem agravar a situação. “Dependendo da gravidade da situação, isso pode levar ao aparecimento de sequelas como paralisias, crises convulsivas, epilepsias e outros danos neurológicos definitivos, ou até mesmo a criança ir a óbito”, enfatiza.

Atenção redobrada

Crianças exigem atenção o tempo todo. Os especialistas do Pequeno Príncipe dão algumas dicas de segurança com os pequenos:

– bloqueie as escadas;

– proteja itens grandes e pesados;

– proteja quinas e tomadas;

– previna acidentes no berço deixando a grade sempre levantada e evitando enfeites que contenham fios ou cordas;

– proteja as janelas e sacadas com telas; e

– nunca deixe a criança sozinha em ambientes de piscina ou qualquer outro ambiente aquático.