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Soluções baseadas na natureza são resposta para crise ambiental nos centros urbanos

Para mitigar a severa crise ambiental que assola os centros urbanos, que é onde habita a maior parte da população, especialistas em todo mundo, inclusive no Brasil, valem-se cada vez das chamadas soluções baseadas na natureza (em inglês, nature-based solutions-NBS). Essas intervenções consistem em utilizar elementos e relações presentes na natureza na restauração de ecossistemas terrestres e aquáticos nas cidades.

O Dr. Giuliano Maselli Locosselli, biólogo e doutor em Botânica pelo Instituto de Biociências da USP, relata que as soluções baseadas na natureza têm como base conceitos desenvolvidos pela Biologia e Ecologia a partir da segunda metade do século XX.

A urbanização propiciou ganhos de escala, sinergias, especialização e complementariedade, que aumentam os investimentos, negócios, produtividade e oferta de empregos. Mas o crescimento exponencial das cidades, sem os necessários planejamento e adoção de políticas públicas, criou centros urbanos inchados com graves problemas, dentre eles o ambiental.

Projetos de soluções baseadas na natureza começaram a ser implementados em cidades em diversos países a partir de 2015. No Brasil, onde a população urbana superou a rural no início da década de 1960 e hoje representa cerca de 85% do total no país, há muitas iniciativas em curso.

A cidade de São Paulo conta com várias ações de soluções baseadas na natureza. Giuliano Locosselli cita as iniciativas na capital de adensamento florestal, que consiste no plantio por parte de ativistas de árvores em pracinhas e outras áreas públicas, formando os chamados parques de bolso, como os do Largo da Batata e Parque Cândido Portinari.

Há também iniciativas de construção em calçadas em São Paulo de jardins de chuvas, que absorvem a água da chuva e ajudam no controle de enchentes. Outra ação para mitigar o grave problema das enchentes na capital é a substituição de valetas de concreto nas ruas por biovaletas com solo e vegetação, que reduzem a vazão e velocidade da água que corre para os fundos de vales durante as tempestades.

O biólogo salienta que as cidades brasileiras em geral oferecem condições muito favoráveis a projetos de soluções baseadas na natureza, porque estão majoritariamente inseridas num território com imensa biodiversidade.

“Estamos aplicando nos centros urbanos os conhecimentos que temos sobre as áreas naturais. É trazer a Biologia para o dia a dia e para a solução de problemas nas cidades, que é onde a maior parte da população mundial vive”, enfatiza Giuliano Locosselli.

As árvores nas ruas e parques urbanos prestam serviços fundamentais para a população, como filtrar a poluição de material particulado que causa doenças pulmonares, sequestrar carbono em sua madeira, cortar a incidência direta dos raios solares (sombra) e tornar o clima mais úmido pelo processo de evapotranspiração.

Ainda mais importante que o caráter utilitário, as árvores permitem que os habitantes das metrópoles se reconectem com a natureza. A contemplação do verde e a beleza e o canto dos passarinhos propiciam sensação de bem-estar que comprovadamente contribui para a redução do estresse, depressão e outros males da vida urbana.

Giuliano Locosselli coordena o Projeto Florestas Funcionais, braço brasileiro do Conexus, um grande projeto de pesquisa em soluções baseadas na natureza da União Europeia, liderado pela Universidade de Sheffield, na Inglaterra. Além de São Paulo, os pesquisadores do Conexus realizam estudos em Buenos Aires, Santiago do Chile, Bogotá, Lisboa, Turim e Barcelona.

O Projeto Florestas Funcionais, que é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), começou em 2020 e tem duração de quatro anos. A pesquisa é uma parceira da USP, Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente e ONG Instituto Cidades Sustentáveis.

A equipe coordenada por Giuliano Locosselli está avaliando os serviços ecossistêmicos em três parques em São Paulo: Parque Estadual Fontes do Ipiranga, um grande fragmento de Mata Atlântica; Parque Ibirapuera, que tem um modelo recreativo com áreas gramadas e alguns maciços arbóreos; e Parque Linear da Consciência Negra, na Zona Leste, que tem um pouco de vegetação de Mata Atlântica, muitos eucaliptos e áreas degradadas.

Assista AQUI ao vídeo com Giuliano Locosselli produzido pelo Conselho Regional de Biologia da 1ª Região (CRBio-01) para a recém-lançada edição da Revista O Biólogo.

A edição nº 61 da Revista O Biólogo está neste LINK.