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E fora dos Stories, você está bem?

Com o objetivo de aproveitar esse momento de reflexão e de planejamento atrelado à simbologia de recomeço de início de ano, surgiu a Campanha Janeiro Branco para o primeiro mês do ano. Assim, o principal foco da campanha é discutir a relevância da saúde mental e do cuidado com as emoções.

Segundo uma pesquisa da instituição de saúde pública do Reino Unido, Royal Society for Public Health (RSPH), em parceria com o Movimento de Saúde Jovem, as redes sociais mais usadas provocam efeitos nocivos à saúde humana, dependendo de como é utilizada. O resultado indicou que o compartilhamento de fotos pelas redes pode impacta negativamente no sono, na autoimagem e aumenta o medo de jovens de ficar fora dos acontecimentos.

Cerca de 70% dos jovens revelaram que o aplicativo fez com que eles se sentissem pior em relação à própria autoimagem e, quando a fatia analisada são as meninas, esse número sobe para 90%. Existem indícios de que as redes sociais impactam a nossa saúde mental, em geral, negativamente. Uma explicação parece bem simples: a realidade das redes sociais compete com a realidade concreta.

A realidade virtual é manipulada conforme os nossos gostos, opiniões e número de vendas pela publicidade. E com isso, as pessoas passam a acreditar que o que está nas redes sociais é realmente a verdade, é o mundo como ele é, e não simplesmente um universo criado, como ocorre em qualquer outra mídia. Na medida em que a sua realidade concreta está ruim e, na realidade virtual, todos estão felizes e as soluções são igualmente disponíveis lá, o mal-estar está instalado.

E com a pandemia, essa realidade só se agravou ainda mais. Nós fomos privados exatamente do contato com o lado bom da realidade física, isto é, as outras pessoas no dia a dia, e escancarou a morte, o luto, a falta de controle sobre a vida. A realidade virtual – que já competia com vantagens – passa a ser a única realidade possível para interagir socialmente. Esta interação não é isenta de todo o lado ruim que as redes sociais têm. Ao nos expormos mais às redes sociais para conversarmos com quem amamos também acabamos oferecendo – gratuitamente – mais do nosso tempo aos interesses das grandes plataformas. Entramos no grande ciclo vicioso: produção de mal-estar e oferecimento da solução a ele, tudo sugerido para você.

É sempre bom frisar que o adoecimento psíquico é multifatorial, isto é, são vários fatores que influenciam o nosso bem-estar mental. Porém, ficar muito tempo ligado a redes sociais pode aumentar a ansiedade, piorar os sintomas depressivos e dificultar o desenvolvimento de habilidades sociais em pessoas já vulneráveis. Em casos mais graves, maior risco de suicídio, transtornos alimentares e transtorno dismórfico corporal.

O fundamental é construir uma interação de equilíbrio, entre universo virtual e real. Primeiramente, tenha um bom contato com a realidade física, concreta. Saiba organizar a quantidade de tempo investindo para interagir virtualmente e o tempo gasto de interação na vida real. Isso é especialmente importante quando falamos de crianças e adolescentes: os pais devem ser responsáveis por dosar o tempo de seus filhos em frente às telas.

Em segundo lugar, a dica é orientar o cotidiano para a saúde mental e física, para o bem-estar. Usando as atividades físicas, boa alimentação e bom sono para reduzir o estresse, e não diante do smartphone. Em terceiro lugar, fortalecer as redes sociais reais: curta a sua família e tenha amigos por perto, interagindo concretamente no dia a dia, em momentos de lazer e tempo de qualidade. É importante também enriquecer a rotina: coloque atividades agradáveis e saudáveis no seu dia a dia de modo que sobre pouco tempo para redes sociais e outros aplicativos. Por fim, e não menos importante, procure ajuda profissional caso você esteja em sofrimento.

Luciano Barbosa de Queiróz, docente de psicologia e integrante do núcleo de atendimento e avaliação psicológica da Estácio.