
A suinocultura moderna enfrenta diversos desafios sanitários, sendo as doenças entéricas algumas das mais recorrentes e economicamente impactantes para a produção. Esses distúrbios intestinais afetam diretamente o desempenho dos animais, aumentam a mortalidade, reduzem o ganho de peso e comprometem o bem-estar dos suínos. Por isso, conhecer as principais enfermidades que acometem o trato gastrointestinal e adotar estratégias preventivas eficazes é essencial para o sucesso da atividade.
A seguir, abordamos as doenças entéricas mais comuns em suínos, os principais sintomas, agentes causadores e, sobretudo, como a nutrição animal pode prevenir doenças entéricas, contribuindo para a saúde do plantel e a rentabilidade da granja.
O que são doenças entéricas em suínos?
As doenças entéricas são aquelas que comprometem o trato gastrointestinal dos suínos, especialmente o intestino delgado e grosso. Elas podem ser causadas por bactérias, vírus, protozoários e, em alguns casos, fatores nutricionais. A contaminação ocorre geralmente por via oral, por meio do consumo de água ou alimentos contaminados, contato com fezes infectadas ou más condições de higiene e manejo.
A manifestação clínica varia conforme a etiologia e a idade dos animais, mas os sinais mais comuns incluem:
- Diarreia (com ou sem sangue);
- Desidratação;
- Perda de apetite;
- Retardo no crescimento;
- Mortalidade elevada em leitões.
Principais doenças entéricas na suinocultura
1. Colibacilose
Causada pela Escherichia coli, a colibacilose é uma das doenças mais frequentes em suínos, especialmente em leitões recém-nascidos ou logo após o desmame. Existem diferentes cepas da bactéria, e os sintomas incluem diarreia aquosa, desidratação e morte súbita em casos graves.
O controle passa pela higiene rigorosa, fornecimento de colostro adequado e estratégias nutricionais que fortaleçam a microbiota intestinal.
2. Diarreia viral (Rotavírus e Coronavírus)
Tanto o rotavírus quanto o coronavírus entérico suínos (PEDv e TGEv) são causas importantes de diarreia em leitões. Os sintomas são semelhantes aos das infecções bacterianas, mas frequentemente ocorrem surtos que acometem grande parte da leitegada, com elevada taxa de mortalidade em animais muito jovens.
A vacinação de matrizes e o manejo adequado do ambiente são fundamentais para a prevenção.
3. Clostridiose
A infecção por Clostridium perfringens tipo C causa necrose intestinal e morte rápida, especialmente em leitões nas primeiras 48 horas de vida. A forma mais leve, causada pelo tipo A, também leva à diarréia persistente e atraso no desenvolvimento.
Medidas preventivas incluem a vacinação das matrizes e boas práticas de higiene no parto.
4. Coccidiose
Essa doença é causada por protozoários do gênero Isospora, que afetam principalmente leitões com cerca de 7 a 21 dias de vida. A coccidiose provoca inflamação intestinal crônica, comprometendo a absorção de nutrientes e levando à diarreia esbranquiçada.
A profilaxia inclui controle da umidade nas maternidades, limpeza rigorosa e, em alguns casos, medicação preventiva via oral.
5. Disenteria suína
A disenteria suína é causada pela bactéria Brachyspira hyodysenteriae e afeta principalmente animais em crescimento e terminação. Caracteriza-se por diarreia com muco e sangue, e pode reduzir significativamente a conversão alimentar.
O controle depende de um bom programa de biosseguridade e nutrição balanceada para minimizar os riscos.
6. Enteropatia proliferativa suína (PPE)
Essa doença é causada pela Lawsonia intracellularis e pode se manifestar em duas formas: aguda (hemorrágica) e crônica (proliferativa). Ambas prejudicam o crescimento dos suínos e podem causar grandes perdas econômicas.
A prevenção envolve vacinação e nutrição adequada, com ênfase no fortalecimento da imunidade intestinal.
A importância da nutrição na prevenção de doenças entéricas
Muito além do tratamento, a prevenção é o caminho mais eficaz e sustentável para lidar com as doenças entéricas. E é nesse ponto que a nutrição animal assume papel de destaque. Diversos estudos e práticas de campo demonstram que uma alimentação balanceada, com ingredientes de alta digestibilidade e aditivos funcionais, reduz significativamente a incidência de enfermidades intestinais.
Como a nutrição animal pode prevenir doenças entéricas?
- Melhora da integridade intestinal: nutrientes como glutamina, butirato e fibras funcionais fortalecem a mucosa intestinal;
- Estímulo à microbiota benéfica: o uso de prebióticos e probióticos inibe a proliferação de agentes patogênicos;
- Imunonutrição: minerais orgânicos (como selênio e zinco), aminoácidos e vitaminas modulam positivamente o sistema imunológico;
- Redução de estresse pós-desmame: dietas específicas ajudam a reduzir os efeitos do estresse, um dos principais fatores predisponentes às doenças intestinais em leitões.
Estratégias integradas de controle
Para evitar surtos e minimizar perdas, é fundamental adotar uma abordagem integrada, envolvendo:
- Biosseguridade rigorosa: controle de acesso, desinfecção de instalações e manejo adequado dos resíduos;
- Vacinação estratégica: vacinação de matrizes e leitões, conforme o desafio sanitário da granja;
- Manejo adequado: evitar superlotação, garantir acesso à água limpa e ambiente térmico controlado;
- Monitoramento constante: análise laboratorial de fezes e necropsias periódicas ajudam a identificar precocemente os agentes patológicos;
- Nutrição de excelência: como já reforçado, a nutrição animal pode prevenir doenças entéricas, sendo um dos pilares do controle sanitário.
As doenças entéricas representam um dos maiores desafios para a suinocultura, comprometendo o desempenho zootécnico e a lucratividade das granjas. Compreender as principais enfermidades, seus sinais clínicos e agentes causadores é fundamental para um diagnóstico rápido e ações eficazes.
Nesse cenário, a prevenção se destaca como o caminho mais seguro e eficiente. Além das práticas de biosseguridade e manejo, investir em uma alimentação de qualidade é essencial. Afinal, a nutrição animal pode prevenir doenças entéricas, promovendo não apenas saúde intestinal, mas também maior produtividade, bem-estar e sustentabilidade na produção suína.