Do comércio às receitas milenares, a herança dos povos árabes contribuiu na formação cultural do Brasil

Presente nas mesas, no vocabulário e até mesmo nas feiras e no comércio popular, a influência árabe no Brasil é uma das heranças culturais mais marcantes deixadas por diferentes ondas migratórias. Sua presença se consolidou ao longo das décadas e se fez notável em diversas regiões do país, influenciando até os dias de hoje.
Chegada dos árabes em território brasileiro
Chegados principalmente no final do século XIX e início do XX, os imigrantes árabes, em sua maioria sírios e libaneses, vieram ao Brasil fugindo de crises econômicas, guerras, e pela busca de melhores oportunidades, encontrando em terras brasileiras um novo lar, e com o tempo, deixando marcas profundas na cultura nacional.
A presença árabe se manifesta na forma como os descendentes mantêm viva a memória de seus antepassados: de festas comunitárias a centros de estudos ajudam a preservar a língua, os costumes e a história da imigração.
Hoje, o Brasil abriga a maior população de origem árabe fora do mundo árabe, com cerca de 11,6 milhões de pessoas, segundo levantamento divulgado pelo Ibope Inteligência e pela H2R Pesquisas Avançadas, de 2020.
Cidades como São Paulo, Foz do Iguaçu, Belém e Recife concentram importantes comunidades com centros culturais, que promovem exposições, apresentações musicais e eventos gastronômicos abertos ao público, o que reforça o papel dessas tradições na formação da identidade multicultural brasileira.
Onde a influência árabe reflete na cultura brasileira
As contribuições do povo árabe para o Brasil são amplas e visíveis em diferentes aspectos do cotidiano, que vão da gastronomia à linguagem e à arte.
Comércio: a figura do mascate (vendedor ambulante) se tornou um ícone da imigração árabe. Com pequenas mercadorias e muita disposição, muitos sírios e libaneses atravessavam cidades e zonas rurais oferecendo seus produtos, ajudando a movimentar economias locais e criando negócios que se transformaram em grandes empresas familiares.
Linguagem: o idioma português absorveu diversos termos de origem árabe, por meio da colonização ibérica. Palavras como alface, almofada e azeite vêm do árabe, assim como expressões como oxalá (de “in shá Allah”, ou “se Deus quiser”), ainda comuns especialmente em regiões com forte presença de sincretismo religioso, como o Nordeste e a Bahia.
Arte e arquitetura: ornamentos geométricos, arcos e arabescos inspirados na estética árabe podem ser vistos em igrejas, casas e templos fundados por descendentes no Brasil. Esses elementos foram adaptados ao estilo local, mas mantêm a essência da arte islâmica e mediterrânea.
Festas: algumas festas religiosas, como o Ramadã e o Eid al-Fird, também são preservadas por comunidades muçulmanas e cristãs de origem árabe no país. Nessas ocasiões, comidas típicas, orações e encontros familiares reforçam o vínculo com a ancestralidade.
Culinária: a influência árabe também é celebrada no paladar. Pratos como esfiha, arroz com lentilhas, homus, coalhada seca e doces com nozes, damascos e tâmaras ocupam lugar de destaque nas mesas brasileiras.
Porém muitos desses pratos sofreram adaptações para se adequar ao paladar nacional, com o uso de ingredientes locais, mas mantendo técnicas tradicionais. O tabule, por exemplo, possui variações que incluem salsinha, menos trigo ou a adição de ingredientes típicos do Brasil, como o cheiro-verde e o limão-taiti.
Com uma presença consolidada em diversas regiões do país, além de hábitos e influências, os descendentes desses imigrantes continuam a fortalecer os laços com a sociedade brasileira, o que garante que a memória e as suas tradições se mantenham vivas ao longo das gerações.