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Apagões em São Paulo: por quanto tempo uma bateria de armazenamento de energia pode manter uma casa funcionando? 

Novo estudo compara funcionamento do equipamento em lares brasileiros

Em São Paulo, a cena tem se repetido com frequência: basta uma chuva forte para que milhares de pessoas fiquem no escuro. Em março de 2025, um temporal deixou 173 mil clientes sem energia, com 62 mil imóveis ainda apagados no dia seguinte, segundo a Enel. No final de 2024, outro vendaval deixou mais de 2,1 milhões de pessoas sem luz, muitos passaram mais de 24 horas sem eletricidade. Diante desse cenário, uma mesma solução vem ganhando espaço entre os paulistas: as baterias de armazenamento de energia.

Aparelhos eletrônicos queimados, perda de alimentos e a interrupção de atividades são alguns dos prejuízos que a instabilidade elétrica pode causar. Com o aumento na frequência dos apagões,  a busca por autonomia energética deixou de ser exceção. Mas, afinal, por quanto tempo uma bateria consegue manter uma casa funcionando durante uma queda de energia? E quais equipamentos ela é capaz de sustentar? Essas perguntas acabam de ser respondidas pela energytech Descarbonize Soluções, que analisou a performance desses equipamentos nos diferentes perfis de lares brasileiros.

O tempo de autonomia para cada lar brasileiro

Para realizar o estudo, a especialista em soluções de energia limpa traçou diferentes perfis que representam os lares brasileiros. Na análise,foram considerados dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), como número de pessoas e aparelhos eletrônicos que compõem os lares do país. Atualmente, o perfil das residências brasileiras se configura essencialmente por:

A análise considerou três cenários distintos de intensidade de consumo: modo normal (rotina habitual de uso dos aparelhos); modo viagem(uso mínimo dos equipamentos, com ausência dos moradores no local), e o modo intenso (maior uso simultâneo, quando a casa está mais cheia).

Abaixo, veja quanto tempo uma bateria de armazenamento pode manter uma residência com seus eletrônicos funcionando, de acordo com o perfil de consumo e seu número de moradores:

Com a configuração certa para cada perfil de lar, é possível que se passe por períodos de queda de energia mantendo a rotina. Garantir o funcionamento dos equipamentos evita a perda de alimentos, as interrupções no trabalho ou mesmo no lazer.

Antônio Lombardi Neto, Diretor de Tecnologia da Descarbonize Soluções, fala sobre o cenário das baterias de armazenamento no Brasil: “Até então, a falta de energia era solucionada com nobreaks, retirada dos eletrodomésticos da tomada, velas e lanternas. Hoje, a tecnologia permite que esse cenário seja contornado com mais conforto e segurança”.

“Com a recorrência cada vez maior de oscilações na rede elétrica, pensar em autonomia energética deixou de ser algo distante. As baterias de armazenamento trazem uma solução viável, especialmente quando associadas a fontes renováveis, como a solar, e ajudam a proteger a residência contra prejuízos e interrupções imprevistas”.

Metodologia

Para determinar o tempo de duração de uma bateria de armazenamento em diferentes lares brasileiros, foram utilizados dados oficiais mais recentes levantados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua), do IBGE, em 2023. A simulação foi construída considerando os formatos de domicílios mais comuns no Brasil, caracterizados por 1 pessoa (19%); 2 pessoas (27%); 3 pessoas (27%), e 4 pessoas (19%), conforme apresenta o instituto.

Critérios para Definição dos Equipamentos

Os eletrônicos e eletrodomésticos incluídos na simulação foram selecionados com base na sua presença e distribuição nos lares brasileiros. Foram considerados equipamentos tidos como essenciais em regime de falta de energia. Não foram incluídos itens como chuveiro elétrico, aquecedor, ar condicionado, secador de cabelo e fogão por indução, por exemplo, pois eles têm um consumo muito elevado, o que esgotaria a bateria muito rapidamente. Para a definição, foram usadas fontes como IBGE – PNAD Contínua e FGV:

  • Geladeira: presente em 98% dos domicílios. Foi considerada 1 unidade para lares de até 3 pessoas e 2 unidades para lares com 4 pessoas.

  • Televisão: presente em 94% das residências. Para lares com até 2 pessoas foram assumidos como tendo 1 aparelho; lares maiores, com 2.

  • Celulares: com média nacional de 1,2 celulares por habitante, os números foram arredondados para simular a realidade dos domicílios.

  • Notebooks/Tablets: a média nacional é de 1,78 dispositivos por pessoa (incluindo dispositivos corporativos). Para a simulação, adotou-se a seguinte distribuição: 1 notebook ou tablet por morador em lares com até 2 pessoas, e uma leve redução proporcional em lares com 3 a 4 pessoas, levando-se em conta o possível compartilhamento dos dispositivos.

Definição dos Perfis Simulados

A partir desses critérios, estabelecemos os seguintes perfis de consumo para cada formato de lar:

  • 1 pessoa → 1 geladeira + freezer, 1 televisão, 1 notebook/tablet, 1 carregador de celular, internet e lâmpadas.

  • 2 pessoas → 1 geladeira + freezer, 1 televisão, 2 notebooks/tablets, 2 carregadores de celular, internet e lâmpadas.

  • 3 pessoas → 1 geladeira + freezer, 2 televisões, 2 notebooks/tablets, 4 carregadores de celular, internet e lâmpadas.

  • 4 pessoas → 2 geladeiras + freezer, 2 televisões, 3 notebooks/tablets, 5 carregadores de celular, internet e lâmpadas.

Com os perfis estabelecidos, a simulação calculou o tempo de autonomia das baterias com base no consumo médio de cada equipamento, permitindo uma estimativa mais precisa da duração da carga em diferentes configurações de residência.

Variações de Perfil de Consumo

A análise analisou três cenários distintos de intensidade de consumo, simulando diferentes realidades de uso da energia:

  • Modo Viagem: consumo 46% menor que o Modo Normal. Foram tidos como desligados os carregadores, televisões, parte da iluminação e os notebooks/tablets.

  • Modo Normal: rotina média de uso dos equipamentos ao longo da semana.

  • Modo Intenso: consumo 50% maior que o Modo Normal, simulando uso simultâneo mais elevado — como em finais de semana, presença de visitantes ou famílias maiores.

Foi considerado para o estudo o modelo de bateria de lítio LiFePO₄ (fosfato de ferro e lítio), com capacidade de armazenamento de 4,8 kWh e vida útil de  6.000 ciclos (tendo em vista descargas de 80%). O modelo é um dos mais populares no mercado, pois é seguro, durável e tem baixo risco de manutenção.

Para os cálculos de autonomia, considerou-se uma descarga útil de até 80% da bateria, respeitando o limite recomendado para prolongar a vida útil do equipamento. Cada ciclo de descarga de 80% foi contabilizado como um ciclo completo de vida útil.

A simulação teve como base a potência média dos aparelhos e o tempo estimado de uso para cada cenário. A autonomia obtida reflete o tempo máximo de funcionamento contínuo que a bateria poderia oferecer em cada perfil, levando em conta a eficiência do sistema e a profundidade de descarga definida. Os tempos de autonomia estimados podem variar conforme a intensidade de uso e o tempo em que cada equipamento permanece ligado.

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