Por Dra. Tainah de Almeida, médica dermatologista especialista em rejuvenescimento*

A autoimagem se tornou um dos temas centrais das redes sociais e da cultura contemporânea e, paralelamente, vem à tona o importante debate sobre como essa busca constante pela aparência ideal tem afetado a saúde mental da população. Rostos simétricos, peles impecáveis, corpos esculpidos e filtros cada vez mais sofisticados criam uma realidade paralela que redefine o que é considerado bonito e desejável, e cria ideais inatingíveis e irreais. Embora pareça inofensivo, esse movimento tem cobrado um preço alto da saúde mental, especialmente entre os mais jovens. Um estudo publicado no Journal of Adolescent Health mostra que adolescentes que passam mais de três horas por dia nas redes sociais apresentam maior risco de desenvolver sintomas de depressão relacionados à insatisfação com a própria aparência. Isso evidencia o quanto a comparação constante e a idealização da imagem vêm adoecendo toda uma geração.
Apesar disso, a verdade deve ser dita: a estética e o autocuidado podem ser aliados poderosos de autoestima, quando inseridos em um contexto de equilíbrio e vividos com consciência. O problema começa quando esse cuidado, ao invés de um gesto de afeto, torna-se uma exigência constante, causando dano. O que deveria fortalecer a imagem acaba gerando cobrança; o que deveria acolher, passa a oprimir. A obsessão pela fórmula da juventude eterna, a pele perfeita ou um corpo irreal transforma esse zelo pela aparência em um fardo emocional e psicológico que compromete o bem-estar emocional e a saúde. Reverter esse cenário exige educação, conscientização e responsabilidade. O cuidado verdadeiro com a pele e com o corpo precisa ser uma forma de afeto, não de opressão, e isso deve ser trabalhado desde cedo, principalmente nas mulheres.
No consultório, observo diariamente a transformação positiva de um tratamento estético bem indicado, capaz de resgatar a autoconfiança, mas também vejo quanto sofrimento as expectativas irreais e a tentativa de atender a padrões de beleza inalcançáveis podem trazer. A conexão entre beleza, autocuidado, tratamentos estéticos e saúde emocional é legítima, mas depende de um fino equilíbrio. Sentir-se bem com a própria imagem influencia positivamente a confiança, os relacionamentos interpessoais e a saúde como um todo, mas esse impacto só é benéfico quando o cuidado respeita a identidade, a idade e os desejos reais de cada pessoa.
A estética não deve ser uma ferramenta de validação social, e sim uma forma de valorização pessoal. É fundamental devolver às pessoas o direito de se enxergarem com amor e verdade, sem a necessidade de se adequar a um padrão único e limitador. Quando a decisão por um procedimento parte de uma vontade interna e é feita com orientação adequada, os benefícios para a autoestima são visíveis e duradouros. Isso não ocorre quando a escolha nasce da comparação ou da pressão externa — fatores que, infelizmente, se tornaram comuns na nossa sociedade atual e nessa era digital.
Existe uma diferença enorme entre autocuidado e cobrança estética. O autocuidado é saudável, mas somente quando se mantém como um gesto livre, e não como resposta às expectativas sociais. Devemos ensinar crianças e adolescentes, especialmente as meninas, a gostarem da própria imagem, mas também a entenderem que são muito mais do que ela. É nosso papel, como médicos, educadores e pais, promover essa consciência de que beleza deve ser expressão de diversidade, não imposição de padrões.
A solução está em buscar um equilíbrio saudável na relação com a imagem: cuidar da pele, do corpo e valorizar a autoestima pode ser um gesto poderoso de reconexão pessoal, desde que a motivação seja genuína e venha de dentro. A estética deve voltar ao seu verdadeiro propósito, que é o bem-estar integral. Esse cuidado precisa respeitar o tempo e a identidade de cada pessoa. A beleza que transforma é aquela que promove amor-próprio e saúde emocional. Ela fortalece a própria imagem sem impor padrões. Essa é a beleza que deve ser valorizada e defendida: a beleza que não pesa, que abraça, que nos faz bem, que respeita o tempo da pele e a essência de cada alma”.
*Dra. Tainah de Almeida é especialista em Dermatologia na Clínica Inovaderm, com vasta experiência na área. Sua formação inclui graduação em Medicina pela Universidade Católica de Brasília (UCB), Residência Médica em Dermatologia no HRAN – SES/DF e Pós-graduação em Dermatologia Oncológica no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. Detentora do título de especialista em Dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) a Dra. Tainah também realizou Fellowship em Dermatoscopia e Oncologia Cutânea na Skin Cancer Unit do Arcispedale Santa Maria Nuova, na Itália, e capacitação na unidade de Melanoma e Lesões Pigmentadas do Hospital Clínic da Universidade de Barcelona, na Espanha. Ela é reconhecida por sua atuação em dermatologia geral, com foco em estética facial, rejuvenescimento natural e oncologia cutânea.