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Canetas emagrecedoras ganham versões brasileiras e reacendem debate sobre uso consciente e avaliação médica

Com novos produtos fabricados no Brasil, como Olire e Lirux, a Dra. Patrícia Torres destaca que os injetáveis devem ser usados com critério médico e foco na saúde, e não como solução estética imediata.

Anvisa passa a exigir retenção de receita para Ozempic- Nutróloga alerta para riscos das canetas falsificadas – foto: Freepik

 

Com o início da comercialização das primeiras canetas emagrecedoras produzidas no Brasil — como Olire e Lirux, da farmacêutica EMS —, os medicamentos à base de análogos de GLP-1 voltaram ao centro do debate público. Esses fármacos, que já incluem opções amplamente conhecidas como Ozempic, Saxenda, Wegovy, Mounjaro e Victoza, ganharam popularidade no combate à obesidade. Agora, com a entrada das versões nacionais no mercado, o tema reacende discussões sobre acesso, regulação e, principalmente, o uso consciente e criterioso dessas substâncias.

Desde junho de 2025, uma nova norma da Anvisa passou a exigir a retenção da receita médica para a dispensação dessas medicações. A medida foi motivada pelo crescimento do uso indiscriminado dos agonistas de GLP-1 — como semaglutida, liraglutida, tirzepatida, entre outros —, muitas vezes utilizados com foco apenas estético, sem avaliação clínica adequada.

“O que deveria ser um recurso terapêutico para casos específicos e bem avaliados virou uma promessa de emagrecimento rápido e sem esforço — o que é um equívoco perigoso”, alerta a Dra. Patrícia Torres, médica da Integrative Ipatinga e pós-graduada em Nutrologia pela Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). “Esses medicamentos podem ser aliados valiosos, mas seu uso deve estar ancorado em um plano terapêutico personalizado, que respeite a complexidade da obesidade”, destaca.

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde, mais de 60% da população brasileira vive com excesso de peso. Para esses casos, as canetas são formalmente indicadas em quadros de obesidade (IMC acima de 30) ou sobrepeso com comorbidades associadas, como hipertensão, diabetes tipo 2 ou apneia do sono. No entanto, segundo a médica, não é incomum encontrar pacientes que iniciam o uso sem prescrição, sem exames e sem acompanhamento, colocando a saúde em risco.

Além do peso: a Medicina Integrativa e o uso consciente das canetas

Na prática, as canetas emagrecedoras atuam promovendo saciedade, retardando o esvaziamento gástrico e reduzindo o apetite — o que, combinado a outras estratégias, pode favorecer a perda de peso. “A ação dessas moléculas sobre o centro do apetite é bem documentada, mas é um erro acreditar que isso resolve o problema por si só. O corpo se adapta. Por isso, o uso precisa vir acompanhado de mudanças reais no estilo de vida: nutrição ajustada, rotina de sono, suporte emocional e atividade física regular”, explica a Dra. Patrícia.

A Medicina Funcional Integrativa avalia múltiplas variáveis que podem influenciar no ganho de peso: saúde intestinal, desequilíbrios hormonais, qualidade do sono, carências nutricionais e impacto do estresse crônico. “Só com essa escuta ampliada conseguimos prescrever com responsabilidade. É comum que o paciente tenha fatores ocultos que dificultam o emagrecimento e até contraindicam o uso dos injetáveis”, afirma.

Além disso, evidências recentes alertam para o risco de efeito rebote. Uma metanálise publicada em 2025 pela revista científica Obesity Reviews, com mais de 2.300 pacientes, mostrou que cerca de 50% dos usuários voltam a ganhar peso após a suspensão do tratamento. Em média, usuários de liraglutida recuperaram 2,2 kg, enquanto aqueles que utilizavam semaglutida ou tirzepatida voltaram a ganhar até 9,7 kg.

“Esse dado precisa ser discutido com os pacientes. O objetivo do tratamento não é apenas perder peso temporariamente, mas reprogramar o organismo para sustentar um novo equilíbrio metabólico. É aí que entra a medicina integrativa, com uma proposta de transformação real, baseada na individualidade e na construção de hábitos duradouros”, conclui a médica.

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