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Diarreia recorrente: quando procurar ajuda médica

Entender os sinais do corpo é essencial para saber quando a diarreia recorrente exige atenção profissional e não apenas cuidados em casa

A diarreia é uma experiência desagradável e comum, mas quando ela se torna recorrente, a preocupação aumenta. Sentir o desconforto de fezes amolecidas, urgência para ir ao banheiro e a sensação de mal-estar pode afetar profundamente a qualidade de vida.

O que muita gente não sabe é que a diarreia não é um diagnóstico, mas um sintoma, que indica que algo não vai bem. Quando ela é persistente, pode ser um sinal de que algo mais profundo está acontecendo no organismo.

Muitas vezes, a primeira reação é buscar soluções rápidas, como ajustar a dieta por conta própria ou simplesmente ignorar os sintomas, acreditando que eles vão desaparecer. Essa abordagem pode ser perigosa.

A diarreia prolongada pode levar a uma série de problemas, como a desidratação, que ocorre quando o corpo perde mais líquidos e eletrólitos do que consegue repor. Também ocorre a perda contínua de nutrientes que afeta o funcionamento geral do organismo.

Fatores que podem levar à diarreia recorrente

Infecções bacterianas, virais ou parasitárias persistentes

Um dos motivos mais comuns para a diarreia persistente são as infecções. Bactérias como a Clostridioides difficile, os vírus, como o rotavírus, ou parasitas como a Giardia lamblia.

A diarreia causada por essas infecções pode ser acompanhada de outros sintomas, como febre e dor abdominal. A detecção dessas infecções exige exames específicos, como a análise de amostras de fezes, para identificar o agente causador e direcionar o tratamento.

Intolerâncias alimentares e dietas desreguladas

Outra causa importante para a diarreia recorrente são as intolerâncias alimentares. A intolerância à lactose, por exemplo, é a incapacidade do organismo de digerir o açúcar do leite, causando sintomas como diarreia, gases e inchaço abdominal após o consumo de laticínios.

Da mesma forma, a sensibilidade ao glúten não celíaca pode provocar problemas semelhantes. Nessas situações, o corpo reage de maneira inflamatória ao alimento, causando uma irritação intestinal que se manifesta como diarreia.

Além das intolerâncias, uma dieta desregulada, rica em alimentos processados, gordurosos e açucarados, e pobre em fibras, também pode desequilibrar a flora intestinal, o que pode levar a quadros diarreicos.

Estresse e ansiedade como gatilhos gastrointestinais

A relação entre o cérebro e o intestino é um campo de estudo cada vez mais relevante. O eixo cérebro-intestino é uma via de comunicação bidirecional que conecta o sistema nervoso central e o entérico, que é o sistema nervoso do trato gastrointestinal.

O estresse e a ansiedade podem liberar hormônios que afetam diretamente o movimento do intestino.

O estresse crônico pode levar a um aumento da permeabilidade intestinal, também conhecida como “leaky gut”, onde as paredes do intestino se tornam mais porosas, permitindo que substâncias indesejadas entrem na corrente sanguínea.

Esse processo pode causar inflamações no intestino e em todo o corpo, provocando a diarreia. Portanto, o controle do estresse e a adoção de práticas de bem-estar mental, como meditação ou exercícios físicos, podem ter um papel significativo na melhora dos sintomas digestivos.

Sinais de alerta que exigem avaliação médica

Embora a diarreia ocasional possa ser tratada em casa, a diarreia recorrente, especialmente quando acompanhada por certos sinais de alerta, demanda atenção médica o quanto antes.

Presença de sangue ou muco nas fezes

A presença de sangue ou muco nas fezes é um sinal claro de que algo não está certo no trato gastrointestinal. Sangue nas fezes pode ser um indicativo de inflamação grave, infecções bacterianas invasivas ou outras condições mais sérias.

Ele pode se apresentar como fezes avermelhadas, pretas ou com raios de sangue. O muco, por sua vez, pode ser um sinal de inflamação na parede do intestino. Observar esses sinais é crucial e deve motivar a busca por ajuda médica o mais rápido possível.

Febre, dor abdominal intensa e perda de peso

A diarreia recorrente, quando acompanhada por outros sintomas sistêmicos, como febre alta, dor abdominal intensa, vômitos persistentes e perda de peso inexplicável, pode ser um indicativo de uma condição de saúde subjacente que precisa ser investigada.

A febre pode sinalizar uma infecção. A dor abdominal intensa pode indicar inflamação ou obstrução.

A perda de peso não intencional pode ser um sinal de má absorção de nutrientes, o que ocorre quando o intestino não consegue absorver adequadamente as vitaminas e minerais dos alimentos e as causas são as mais variadas. Em qualquer um desses casos, é preciso procurar ajuda médica rapidamente.

Desidratação

A diarreia recorrente causa perda significativa de líquidos e eletrólitos, como sódio e potássio, podendo levar à desidratação.

Os sinais de desidratação em adultos incluem boca ou língua seca, diminuição da micção e uma sensação de sede constante.

Em crianças, sinais adicionais podem incluir choro sem lágrimas, moleira afundada em bebês e falta de energia. A desidratação grave é uma emergência médica.

Cuidados imediatos enquanto espera atendimento médico

Enquanto você aguarda uma consulta médica para investigar a causa da diarreia recorrente, algumas medidas simples podem ser adotadas para aliviar os sintomas e prevenir o agravamento da situação.

Manter hidratação constante

A hidratação é o cuidado mais importante. A perda de líquidos pela diarreia precisa ser reposta para evitar a desidratação. Beber água em pequenos goles e com frequência é de extrema importância.

As soluções de reidratação oral também são uma ótima opção nesses casos. Elas contêm a proporção correta de eletrólitos, como sódio e potássio, que são perdidos durante os episódios de diarreia.

Optar por refeições leves e de fácil digestão

Durante a diarreia, o intestino está sensível e irritado. Refeições leves e de fácil digestão ajudam a não sobrecarregar o sistema digestivo.

Alimentos como bananas, arroz branco, purê de maçã e torradas são boas opções, pois são de fácil absorção e podem ajudar a dar mais consistência às fezes.

Evite alimentos gordurosos, picantes, com alto teor de fibras insolúveis, laticínios e bebidas com cafeína, que podem irritar ainda mais o intestino.

Cuidados após orientação médica

Após o atendimento médico, é importante seguir à risca as recomendações e orientações que foram passadas.

Se a diarreia é recorrente, porém não apresenta sintomas agravantes, o médico poderá recomendar cuidados caseiros como os que foram mencionados antes, além de recomendar o uso de probióticos para repor a flora intestinal.

Esse tipo de suplementação pode restabelecer o equilíbrio da flora intestinal, impedindo que a diarreia apareça outra vez.

No caso de diarreia causada por bactérias, é provável que seu médico tenha prescrito algum antibiótico para ajudar a tratar a condição. É importante observar a quantidade e os horários exatos de consumo para evitar a resistência ao medicamento.

Ref.

Iancu MA, Profir M, Roşu OA, Ionescu RF, Cretoiu SM, Gaspar BS. Revisitando o Microbioma Intestinal e seu Papel na Diarréia e Constipação. Microrganismos. 2023, 29 de agosto;11(9):2177. doi: 10.3390/microrganismos11092177.