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IOF e juros: o que muda para o investidor com os novos ajustes do governo

Por Raul Sena

O mês de junho trouxe dados que reforçam o impacto direto do IOF no bolso dos brasileiros. Segundo a Receita Federal, foram pagos mais de 8 bilhões de reais em IOF no mês, representando um aumento de 38% em relação a junho do ano passado e de 34% em comparação com maio. Esse crescimento expressivo se deve, principalmente, às recentes mudanças nas alíquotas promovidas pelo governo, que buscaram reforçar a arrecadação em aproximadamente 30 bilhões de reais até 2026.

Na prática, o investidor já sente essa diferença no dia a dia. Quem faz remessas internacionais, por exemplo, viu o IOF subir de 0,38% para 1,1%. Em um envio de 100 mil reais, o custo salta de 380 para 1.100 reais, gerando um gasto adicional de mais de 8.600 reais ao ano. Nas operações com cartão internacional, o IOF também subiu de 3,38% para 3,5%, afetando viagens, compras e assinaturas em moeda estrangeira. Já no crédito para empresas, o IOF diário dobrou de 0,0041% para 0,0082%, além da taxa fixa de 0,38%, encarecendo linhas corporativas em um cenário de Selic ainda alta, atualmente em 10,25%.

Embora o Supremo Tribunal Federal (STF) tenha decidido pela suspensão da cobrança retroativa no período em que o decreto esteve sem validade, garantindo maior segurança jurídica, o investidor continua exposto a mudanças repentinas. E a pergunta que fica é: qual é o verdadeiro custo de um ambiente econômico em que tributos podem mudar de forma tão rápida e imprevisível?

Esse tipo de ajuste não pesa apenas no orçamento imediato. Existe um efeito silencioso, mas profundo, que é o aumento do chamado prêmio de risco fiscal. Quando há instabilidade tributária, os investidores passam a exigir retornos maiores como compensação pela incerteza, o que encarece projetos de longo prazo, reduz a disposição ao investimento produtivo e afeta a economia como um todo.

Diante desse cenário, o investidor precisa agir estrategicamente. Consolidar remessas ao exterior, em vez de fazer múltiplas operações pequenas, pode reduzir o custo proporcional do IOF. Avaliar o uso de ETFs e BDRs negociados no Brasil torna-se ainda mais importante, já que essas opções passam a ser mais competitivas frente ao envio direto de recursos para corretoras internacionais. Na renda fixa, a recomendação é reforçar posições indexadas ao CDI, que continuam com retornos interessantes mesmo em um cenário de IOF elevado e Selic alta. Para empresas, revisar a estrutura de crédito, alongar prazos e renegociar condições são medidas fundamentais para manter a saúde financeira em dia.

Em um ambiente de juros altos e ajustes constantes no IOF, planejamento tributário e financeiro deixam de ser opções para se tornarem prioridades. Afinal, não é apenas o imposto que impacta seus investimentos, mas a instabilidade das regras que determina, no fim das contas, quanto do seu dinheiro realmente se transforma em rentabilidade.

Raul Sena é especialista em mercado financeiro, educador de finanças e investimentos, fundador da AUVP Capital e eleito pela Anbima o principal influenciador de finanças do Brasil em 2024.