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Trabalhadores brasileiros valorizam benefícios flexíveis, e empresas colhem vantagens

Adoção deliberada do modelo sinaliza que a organização está sintonizada com a valorização individual, abrindo caminho para um ambiente corporativo mais humano, eficiente e competitivo

Créditos: Igor Alecsander/iStock

O cenário corporativo brasileiro, nas últimas décadas, sofreu uma série de transformações ligadas ao avanço tecnológico, à melhora da eficiência dos processos produtivos e à alta rotatividade no que diz respeito à circulação das mercadorias, sobretudo a partir das relações comerciais internacionais cada vez mais intensivas.

No que tange à gestão empresarial de pessoas, consequentemente, por conta deste movimento, o cenário também está passando por uma transformação. Nesse sentido, um fenômeno que vem ganhando força é a adoção de políticas cada vez mais direcionadas ao bem-estar dos colaboradores e a personalização, através de benefícios mais flexíveis.

Atualmente, o mercado de trabalho precisa acompanhar a fluidez e a aceleração do tempo que atravessa o cotidiano de muitos brasileiros. A aceleração do tempo nada mais é do que o ritmo mais rápido da vida moderna, marcado pelos avanços tecnológicos e pelo maior fluxo de informação. Para os trabalhadores, isso significa novas formas de organizar a vida – movimento que exige adaptação às dinâmicas do dia a dia.

É nesta perspectiva que a adoção da flexibilidade desperta interesse, não somente no setor de recursos humanos, mas também no âmbito da retenção de talentos e no engajamento entre a vida profissional e pessoal. Em uma hipótese, trata-se de assumir um papel estratégico que tende a ser incorporado à cultura organizacional de muitas empresas com o passar dos anos. 

Crescimento evidente na adoção?

Ao se olhar para os dados dos últimos anos, percebe-se que a adoção de benefícios mais flexíveis é uma tendência crescente. Por exemplo, uma pesquisa realizada pela Leme Consultoria, em parceria com a startup Swile, demonstrou que essa abordagem está desenvolvendo-se significativamente, com cerca de 44,2% de preferência das empresas. Em 2021, o valor era de 26,2%. 

Além disso, dados de 2023 mostram que também ocorreu um crescimento de 75% na prática, ou seja, na ação propriamente dita das empresas no que diz respeito à oferta de benefícios com maior grau de flexibilidade. 

Os colaboradores preferem benefícios mais flexíveis?

Em um primeiro momento, considerando os novos ritmos da vida moderna, seria factível dizer que os colaboradores preferem ter benefícios mais flexíveis em suas jornadas de trabalho. Os dados, por sua vez, parecem mostrar que o horizonte é verdadeiro. Há evidência de que os colaboradores realmente valorizam intensamente a flexibilidade.

Conforme uma pesquisa da Robert Half, 86% dos profissionais do território brasileiro preferem trabalhar em empresas que oferecem benefícios personalizáveis, na medida em que 49% afirmam estar dispostos a trocar de emprego por um pacote que realmente se alinhe às suas necessidades cotidianas.  

Além disso, uma pesquisa mais recente, publicada ainda este ano no Blog Apoiar, mostrou que 72% dos colaboradores acabam preferindo benefícios flexíveis, em detrimento de um aumento salarial. Este movimento, por si, evidencia que a maior parte do público almeja liberdade, autonomia e adequação às suas necessidades.

Este processo ocorre porque, hoje em dia, embora toda experiência em certo grau seja coletiva, as vivências individuais são muito mais amplas. Neste quesito, entra, também, o suporte ao bem-estar. De fato, em tendências práticas, é possível observar outros sinais de mudanças atreladas a esta questão.

Por exemplo, houve um aumento de quase 10 pontos percentuais no que diz respeito à oferta de assistência psicológica, além de um crescimento na casa dos 80% em três anos em descontos para academia, reforçando a preocupação com a saúde mental e física.

Na mesma direção, o relatório da Global Corporate Health and Wellness Research mostrou que as iniciativas voltadas ao bem-estar, em termos de produtividade, podem aumentar o desempenho em até 25%. 

Mas, de fato, o que são os benefícios flexíveis?

É importante enfatizar que, diferentemente dos benefícios dos pacotes tradicionais, geralmente engessados e idênticos para todas as pessoas, os benefícios flexíveis funcionam a partir de créditos ou saldos que o próprio colaborador pode definir, conforme suas necessidades individuais. 

Um exemplo ilustrativo é o seguinte: em vez de receber somente vale-refeição ou alimentação, o trabalhador recebe um cartão, ou saldo, que pode ser usado para uma série de finalidades, entre elas alimentação, compras em farmácia, transporte, contas de home office, educação, cultura, lazer, entre outras. 

Trata-se, portanto, de um sistema que converte o benefício em autonomia, respondendo, portanto, diretamente às demandas do trabalhador, considerando suas singularidades. Mas quais seriam as vantagens? Em suma, a adoção deste tipo de ação pode ser extremamente benéfica para a empresa em muitos sentidos. 

Benefícios flexíveis resultam em maior satisfação dos colaboradores, uma vez que o sistema atende à realidade e às prioridades de cada um. Além disso, a oferta de pacotes adaptáveis aumenta a retenção de talentos, considerando, sobretudo, que a maioria dos trabalhadores prefere este tipo de oferta. Este movimento, inevitavelmente, também culmina na atração de novos talentos e perfis profissionais.

Outro ponto é que este tipo de pacote também aumenta a autonomia do colaborador e fortalece a identidade corporativa em um mercado cada vez mais em disputa. Nesse sentido, considerando o atual cenário brasileiro, a tendência é que este tipo de abordagem torne-se cada vez mais popular. 

Porém, para realmente consolidar o uso de benefícios flexíveis, as empresas precisam fazer o processo de mapeamento das necessidades dos colaboradores, via pesquisas internas, enquetes, entre outras metodologias, considerando as singularidades. Depois disso, se faz necessário acompanhar os resultados em termos de retenção, engajamento e satisfação. 

No fim, a adoção crescente desses programas demonstra que a flexibilidade é sinônimo de valorização da pessoa e de segurança estratégica para as empresas. Na medida em que o corporativo beneficia-se do bem-estar do colaborador, a partir do aumento de sua produtividade. 

A tendência, portanto, é cada vez mais nítida: à medida que o mercado evolui e ganha novas variáveis que afetam as dinâmicas sociais em termos de rendimento e disputa por nichos cada vez mais específicos, ofertar benefícios flexíveis torna-se, também, uma forma inteligente de posicionar a empresa no futuro.