Especialista alerta para os riscos de tentar remover o corpo estranho em casa e reforça a importância do atendimento médico imediato

Você já viu uma criança pequena colocando algo na boca? Essa cena, tão comum no dia a dia de quem convive com os pequenos, pode parecer inofensiva à primeira vista — mas também é motivo de preocupação. Por curiosidade ou simples brincadeira, muitas crianças acabam colocando pequenos objetos no ouvido, no nariz ou até engolindo, o que pode gerar situações de risco e exigir atendimento médico imediato.
De acordo com a Dra. Raquel Rodrigues, otorrinolaringologista do HOPE – Hospital de Olhos de Pernambuco, essa é uma situação mais frequente do que se imagina. “As crianças pequenas estão descobrindo o mundo. Muitas ainda estão na fase oral e tendem a colocar tudo na boca. Depois, passam a descobrir o nariz, o ouvido… e é natural que queiram explorar. Elas não fazem isso por maldade nem para chamar atenção — é pura curiosidade, e por não terem noção do risco, acabam se machucando”, explica.
Segundo a especialista, os corpos estranhos podem ser inanimados (como brinquedos, pedaços de esponja, bolinhas de papel, miçangas, pilhas de relógio ou grãos de feijão e milho) ou animados (como insetos e carrapatos, mais comuns em adultos). “Entre as crianças, os objetos inanimados são os mais frequentes. A gente vê de tudo: pedaços de brinquedo, tic-tacs, miçangas e até espuma de colchão. Já os insetos aparecem mais em adultos, geralmente por exposição — quem dorme ao ar livre, por exemplo, pode ter um inseto entrando no ouvido.”
Os sintomas variam de acordo com o local. Quando o corpo estranho está no ouvido, pode causar dor, incômodo, coceira ou zumbido. “Se for um inseto, a dor é imediata, porque ele se mexe e arranha o canal auditivo. A criança chora, aponta para o ouvido, fica inquieta. Já com objetos pequenos, às vezes não há dor, e o problema só é percebido no banho, quando o adulto nota algo diferente”, comenta a otorrinolaringologista.
A médica enfatiza ainda um ponto importante: a postura dos pais e cuidadores diante dessas situações. “É essencial explicar à criança que ela não deve colocar nada no ouvido, no nariz ou na boca. Às vezes a família acha graça e acaba reforçando o comportamento, e isso pode aumentar o risco de que o acidente se repita”, alerta a Dra. Raquel.
No caso do nariz, os sinais são mais específicos: “Em poucas horas, o nariz começa a produzir secreção com cheiro muito ruim — sempre de um lado só. Quando há coriza fétida unilateral, a primeira suspeita deve ser de corpo estranho, não sinusite”, alerta a médica.
Diante de uma situação assim, nada de tentar resolver em casa. A Dra. Raquel é categórica: “Jamais tente tirar sozinho. Isso pode empurrar o objeto ainda mais fundo, causar ferimentos e, no caso do nariz, até provocar engasgo ou broncoaspiração, quando o objeto vai parar no pulmão.”
Ela orienta que, em casos de insetos no ouvido, uma medida simples pode ajudar até chegar à emergência: “Pode pingar um pouquinho de azeite ou óleo mineral. Isso paralisa o inseto e alivia o incômodo, mas ainda assim é indispensável procurar o otorrino o quanto antes.”
Os riscos de manipulação indevida são altos. “Já vimos casos de perfuração da membrana timpânica e até desarticulação da cadeia ossicular, estruturas essenciais para a audição. Tudo por conta de tentativas de remoção feitas por pessoas não habilitadas ou com instrumentos inadequados”, reforça.
A especialista lembra ainda que todos os casos de corpo estranho são considerados urgências otorrinolaringológicas. “Não é algo para deixar para depois. Mesmo quando parece simples, deve ser avaliado por um profissional. Às vezes é preciso sedar a criança para garantir uma remoção segura e sem dor.”
Um ponto de atenção especial é quando o objeto é uma pilha de relógio. “A pilha estoura rapidamente, liberando substâncias químicas que podem perfurar o septo nasal em pouco tempo. Nesses casos, cada minuto conta. É correr para a emergência”, enfatiza a otorrino.
O procedimento de remoção, quando feito corretamente, costuma ser rápido e tranquilo. “A maioria dos pacientes se surpreende. Eles dizem: ‘Já acabou?’. Em poucos segundos resolvemos, porque temos o instrumental e a técnica adequada”, conta a médica.
E como evitar que isso aconteça? A resposta está na vigilância constante. “Os pequenos são muito rápidos. Então, o ideal é que objetos pequenos, como botões, pilhas, miçangas e peças de brinquedo, fiquem fora do alcance. É importante também estar atento durante as refeições, para que a criança não coloque grãos de feijão, milho ou arroz no nariz ou ouvido”, orienta a especialista.
Para a Dra. Raquel, o segredo está em atenção e calma. “A atenção precisa ser triplicada nessa fase de descobertas. E, se acontecer, não entre em pânico — mas procure ajuda médica imediatamente. O olhar atento e o cuidado dos adultos fazem toda a diferença para evitar acidentes e preservar a saúde dos pequenos”, finaliza a Dra. Raquel Rodrigues, otorrinolaringologista do HOPE – Hospital de Olhos de Pernambuco.