Especialistas reforçam a importância das brincadeiras lúdicas e alertam para os efeitos do uso excessivo de dispositivos eletrônicos nas férias escolares

Com a chegada das férias escolares de julho, muitas famílias buscam alternativas para entreter as crianças longe das telas. Embora a praticidade dos dispositivos eletrônicos pareça uma solução rápida, especialistas alertam que o uso excessivo desses recursos pode trazer impactos significativos ao desenvolvimento infantil. Para auxiliar pais e responsáveis, educadores destacam o papel fundamental das brincadeiras livres, interativas e com envolvimento direto da família.
Segundo o professor João Paulo Manechini, docente de Educação Física da Estácio, além dos ganhos emocionais e cognitivos, as brincadeiras ativas são fundamentais para a saúde física das crianças. Ele destaca que atividades como esconde-esconde, pega-pega, corridas e circuitos contribuem para a coordenação motora, o equilíbrio e ajudam a combater o sedentarismo, a obesidade e outros problemas decorrentes da inatividade.
O docente reforça que brincar é também uma forma natural de praticar exercícios, e as férias escolares representam uma oportunidade para os pais se reconectarem com os filhos por meio de atividades simples. “Não é preciso grandes recursos: uma ida ao parque, um jogo de bola, pular corda ou andar de bicicleta já oferecem ótimas ocasiões de lazer em família”, pontua Manechini.
Essas experiências, além de divertidas, fortalecem os vínculos afetivos, desenvolvem a imaginação e criam memórias afetivas duradouras. Para os especialistas, as férias são um convite a desacelerar e estar presente, e, com criatividade e afeto, é possível transformar esse período em algo inesquecível para toda a família.
Na mesma linha, Reginaldo Arthus, reitor e professor de Pedagogia da Wyden, destaca que a infância é marcada por uma intensa capacidade de aprendizagem e criação, que deve ser estimulada com experiências reais. Ele afirma que a brincadeira é uma ferramenta essencial para o desenvolvimento emocional, social e cognitivo das crianças e, quando envolve a participação dos pais, ganha ainda mais valor afetivo.
“A etapa ativa de descoberta das potencialidades do corpo por parte das crianças não deve ser substituída pela passividade pétrea promovida pelo feitiço da Medusa das telas dos celulares. Vamos entregar mais vida ativa para nossas crianças”, destaca o professor.
O especialista explica que o uso prolongado de celulares, tablets e outros eletrônicos pode provocar dificuldades de concentração, problemas de socialização, distúrbios do sono e até aumento dos casos de miopia. Com o avanço da tecnologia, especialmente após a pandemia, as telas passaram a ocupar um espaço expressivo no cotidiano das crianças, o que exige equilíbrio e estímulo a outras formas de lazer e expressão.
Para Arthus, o envolvimento da família nas atividades lúdicas é decisivo. Crianças com menos exposição às telas tendem a ser mais criativas e autônomas, inventam jogos, exploram o ambiente e desenvolvem habilidades importantes para a vida.
Complementando os alertas, o médico pediatra Rafael Costa, docente do IDOMED (Instituto de Educação Médica), ressalta os riscos do uso excessivo de eletrônicos na infância. Segundo ele, há uma relação direta entre a superexposição a dispositivos digitais e o aumento de quadros de ansiedade, irritabilidade, atrasos na linguagem e alterações no padrão de sono das crianças.
“O cérebro infantil está em formação e é extremamente sensível aos estímulos externos. Quando exposto por longos períodos a conteúdos digitais, especialmente em idade precoce, esse cérebro pode sofrer alterações nas conexões neurais responsáveis pela atenção, memória e regulação emocional”, explica o médico.
Rafael destaca ainda que o tempo excessivo diante das telas compromete interações humanas essenciais para o desenvolvimento social. “A criança precisa olhar nos olhos, interpretar gestos, compreender expressões. Esses aprendizados não se dão por meio de um vídeo no celular, mas nas relações reais, com seus pares e com os adultos ao redor”, pontua.
Para o pediatra, o equilíbrio é o caminho: estabelecer limites claros para o uso de eletrônicos e oferecer opções atrativas e envolventes no mundo real são atitudes que fazem diferença. “Desligar a tela é um gesto de cuidado. Brincar, correr, conversar, imaginar — isso sim é infância em sua plenitude”, conclui.