Com 800 milhões de usuários, ferramenta chega ao terceiro ano consolidado como infraestrutura cognitiva e inicia nova etapa de maturidade

A inteligência artificial mais popular do planeta completa, no próximo dia 30 de novembro, três anos de existência, e o que começou como um chatbot experimental se consolidou como uma das inovações tecnológicas mais impactantes da história recente. Com 800 milhões de usuários ativos em todo o mundo, se fosse um país, seria o 3º maior país do mundo. O ChatGPT redefiniu a relação entre pessoas, empresas e algoritmos inteligentes, tornando-se a espinha dorsal de uma nova economia digital baseada em linguagem natural.
Três anos depois, a OpenAI, empresa desenvolvedora da ferramenta, encara seu primeiro teste de maturidade. O uso do aplicativo móvel atingiu o pico em setembro de 2025 e caiu desde então, com os downloads globais recuando 8% mês a mês e o tempo médio gasto por usuário diminuindo 22,5% desde julho, segundo relatório da Thunderbit. As assinaturas pagas na Europa também estagnaram. Analistas atribuem o movimento à fadiga do usuário, à falta de novidades e ao desempenho abaixo do esperado do GPT-5.
Ainda assim, o impacto dessa tecnologia segue monumental. A OpenAI deve encerrar o ano com 1 bilhão de usuários semanais e US$ 13 bilhões em receita, com projeções ambiciosas de alcançar US$ 100 bilhões anuais até 2028, uma meta que exigirá inovação constante, conforme dados da Techcrunch.
“Esses três anos provam que a barreira para a adoção de tecnologia complexa foi pulverizada. Atingir 1 milhão de usuários em cinco dias, 100 milhões em dois meses e agora 800 milhões em três anos não são apenas recordes; são a validação de que o público estava pronto e ansioso por ferramentas que aumentassem sua capacidade cognitiva”, avalia o palestrante de Inteligência Artificial, especialista em dados, professor de MBA da Fundação Getulio Vargas (FGV) e autor do livro Organizações Cognitivas: Alavancando o Poder da IA Generativa e dos Agentes Inteligentes, Kenneth Corrêa.
A era dos copilotos, liderada pelo ChatGPT, e a integração sistêmica
Segundo Kenneth, a transformação digital deixou de ser uma opção para se tornar uma corrida global pela eficiência, com a IA generativa como motor principal dessa nova fase. “Seguindo essa adoção massiva, os copilotos são a materialização dessa IA no dia a dia. Podemos pensar neles como assistentes proativos integrados às ferramentas que já usamos, acelerando nossa produtividade”, explica.
Hoje, um programador utiliza o ChatGPT para completar códigos complexos, enquanto executivos recorrem ao Microsoft 365 Copilot — presente em 79% das empresas, segundo dados da própria Microsoft — para resumir e-mails e preparar reuniões. No marketing, plataformas como PolymerSearch analisam grandes volumes de dados e o Gemini, do Google, gera conceitos visuais em segundos.
“Estamos na segunda fase da jornada, saindo da experimentação isolada para a integração sistêmica. Já temos copilotos, mas o cotidiano ainda não é plenamente assistido por eles”, pontua o especialista, mencionando o lançamento do GPT-5, em agosto de 2025 — tecnicamente superior, mas “humanamente frio” — e a rápida ascensão de concorrentes como o Gemini 2.5 Pro e o Claude 4.1.
Brasil é o 3º país que mais usa o ChatGPT
O brasileiro figura entre os maiores entusiastas do ChatGPT. De acordo com dados da Semrush, o país é o terceiro em volume de tráfego na plataforma, atrás apenas da Índia (9% do tráfego global, cerca de 544 milhões de visitas) e dos Estados Unidos (15%, aproximadamente 883 milhões de visitas).
Para Kenneth Corrêa, o Brasil é reconhecido mundialmente por abraçar novas tecnologias com rapidez, mas ainda há espaço para amadurecimento no ambiente corporativo. “Estamos em um nível intermediário na adoção estratégica empresarial. Temos iniciativas excelentes e isoladas, mas ainda falta escala e a transição de ‘ferramenta’ para ‘processo’ na maioria das grandes companhias”, analisa.
Os setores que mais se beneficiaram até o momento são tecnologia e marketing, onde desenvolvedores usam IAs para codificar e depurar sistemas, e profissionais de marketing exploram a personalização e análise de dados em larga escala. Já áreas como saúde e direito, com alto potencial de transformação, avançam mais lentamente devido a barreiras regulatórias e culturais.
O dilema ético e a redefinição de limites
O avanço acelerado da IA também trouxe dilemas éticos e pressões regulatórias. Recentemente, em resposta às novas exigências do governo chinês sobre formação acadêmica para influenciadores que abordam temas sensíveis como saúde, finanças e direito, a OpenAI anunciou uma mudança estratégica: o ChatGPT não pode mais oferecer aconselhamento médico, jurídico ou financeiro a seus mais de 800 milhões de usuários semanais.
Agora, o bot é oficialmente uma ferramenta educacional, não mais um consultor. Ele pode explicar conceitos e princípios gerais, mas sempre recomenda que o usuário procure um especialista humano. A decisão visa prevenir ações judiciais, especialmente em um cenário em que um em cada seis adultos já usa IA para buscar informações de saúde, segundo a Pesquisa TIC Saúde 2024 do Cetic.br.
Apesar das restrições, a adoção educacional cresce. A pesquisa da McKinsey, com 2000 professores dos Estados Unidos, Canadá, Singapura e Reino Unido, sugere que 20 a 40% das horas atuais dos professores — o equivalente a 13 horas por semana — são gastas em atividades que poderiam ser automatizadas usando tecnologia já existente.
“Como professor, vejo que o ChatGPT já é um aliado indispensável. A discussão inicial sobre ‘bloquear’ a ferramenta hoje soa arcaica, embora ainda encontre resistência em alguns ambientes, de empresas a salas de aula”, afirma Corrêa.
Ele destaca ainda o papel da IA como tutor particular 24/7, capaz de explicar conceitos complexos de física ou sugerir estruturas para uma redação. “Para os professores, é um assistente de planejamento que ajuda a criar planos de aula e avaliações. Ferramentas como o Perplexity.ai, que cita fontes, ou o NotebookLM, que gera quizzes e episódios de podcast sobre qualquer tema, tornaram-se fundamentais para a investigação acadêmica”, completa.
Avanços técnicos e novas apostas da OpenAI
Enquanto debate seus limites éticos, a OpenAI acelera em inovação e monetização. O destaque recente é o ShoppingGPT, que transforma o ChatGPT em uma vitrine virtual interativa. O recurso permite pesquisar produtos dentro da própria interface e receber recomendações personalizadas com imagens, avaliações e links diretos de compra, sem sair da plataforma.
Disponível no modelo GPT-4o, o ShoppingGPT cobre categorias como moda, beleza, casa e eletrônicos. A experiência lembra buscadores e comparadores de preço, mas com um diferencial: a linguagem natural. É possível perguntar, por exemplo, “quero um tênis de corrida até R$ 500 que seja confortável para o dia a dia”.
Segundo a OpenAI, as sugestões são baseadas em metadados de terceiros, sem anúncios nem comissões, parte da estratégia para competir diretamente com o Google, que domina o setor, mas tem sido criticado por priorizar resultados patrocinados.
“O ChatGPT foi o catalisador, mas o que ele representa é, sem dúvida, uma nova infraestrutura cognitiva. Assim como a eletricidade não é um produto, mas uma utilidade que energiza fábricas e casas, a IA generativa está se tornando a camada de inteligência que possibilita, empodera e sustenta todos os outros softwares”, define Corrêa.
A visão é reforçada pelas recentes declarações de Sam Altman, CEO da OpenAI, sobre a necessidade de “trilhões de dólares em data centers” para sustentar a próxima era da computação. A empresa firmou contrato de US$ 38 bilhões com a AWS, da Amazon, para expansão de infraestrutura, o primeiro grande acordo após sua reestruturação interna, que deu maior autonomia operacional e financeira.
O futuro: da era do chat à era da ação
Para Kenneth Corrêa, o futuro já está traçado: “O próximo passo é a transição de assistentes passivos para agentes autônomos proativos. A era do chat evoluiu para a era da ação. Como detalho no meu livro Organizações Cognitivas, lançado em setembro de 2024, no MIT, a fronteira agora é criar Redes de Agentes Inteligentes.”
Em outras palavras, não se trata mais de pedir à IA para escrever um e-mail, mas de autorizá-la a ler sua caixa de entrada, identificar oportunidades, planejar ações e executá-las. Os primeiros passos dessa evolução já surgem em projetos como OpenAI Agents e o Perplexity Comet.
Corrêa encerra com uma provocação direta: “A maior barreira para a adoção da IA hoje não é técnica, é cultural. Muitas empresas ainda esperam a ‘ferramenta perfeita’. Meu conselho é: comece pequeno, mas comece agora. Teste um projeto-piloto, meça os resultados e escale. Considerar se sua empresa vai usar ou não a IA já não é mais uma opção. É preciso pensar em quando você vai começar a colher os ganhos de produtividade que ela pode oferecer.”
Sobre o autor
Kenneth Corrêa
Kenneth Corrêa é um renomado especialista em Dados, Inteligência Artificial e Metaverso. Professor de MBA na Fundação Getúlio Vargas (FGV), o profissional tem ajudado a moldar a próxima geração de líderes. Além disso, Kenneth é palestrante internacional TEDx e atua como Diretor de Estratégia da Agência 80 20 Marketing, onde lidera uma equipe de 90 profissionais. Com 15 anos de experiência em marketing e tecnologia, ele desenvolve projetos inovadores para grandes empresas como AEGEA, JBS e Suzano. Recentemente, lançou no MIT (MIT – Massachusetts Institute of Technology) seu primeiro livro internacional, “Organizações Cognitivas – Alavancando o Poder da IA Generativa e dos Agentes Inteligentes”, que explora o impacto da IA nas organizações. Para mais informações: Kenneth Corrêa.
