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Os brasileiros não querem mais presentinhos

Não gosto do estilo de filme de “Velozes e Furiosos 5” mas acabei, providencialmente, vendo uma cena que comentava a história do Brasil e parei para assistir. A personagem, um traficante poderoso, comentava, de forma pejorativa, que há 500 anos os portugueses conquistaram os índios brasileiros com presentinhos (tipo espelho, bugigangas…) e ganhavam sua confiança para o domínio da terra.

Segundo ele os mimos agradaram tanto que hoje se fala português por aqui. Ele ainda contava na ficção que conquistava favelados assim: com escolas, lazer (presentinhos) para depois exercer seu domínio no comércio de drogas.

Gente, que nojo dessa visão!

Há dois dias entrei no site do Ministério da Educação (para pesquisar coisas da escola do meu filho) e hoje li um artigo sobre Vigilância em Saúde referente a minha especialização também providencialmente. Digo providencialmente porque acabei notando que o comentário do filme americano é hoje impertinente!

O que li ontem e hoje foram materiais que mostram que o Brasil evoluiu muito na política social. Hoje somos uma democracia, as crianças têm direito a educação, há programas de erradicação do trabalho infantil, têm todo incentivo a freqüentar a escola, têm vacinação de qualidade garantida pelo governo, têm acompanhamento pediátrico gratuito. E isso tudo não é presente de ninguém, é fruto de brasileiros fortes que vem lutando, cobrando, pegando no pé dos dirigentes há vários anos. Não digo que a política social do Brasil é nota dez, ficaria escrevendo aqui um ano para falar de suas deficiências ainda existentes, mas digo sim que o brasileiro sabe reconhecer que presentinhos não são suficientes, garantia de direitos é coisa séria.

Quando a personagem falava eu me lembrava daqueles estudantes da ditadura militar nas ruas, dos políticos das diretas já, dos cara pintadas, dos manifestos de índios em Brasília, dos Conselhos de Saúde, dos Conselhos de Educação. Sabemos que alguns grupos de outrora tinham incentivo de interesses elitistas em suas lutas e também que até hoje benefícios sociais podem ser até mel na boca de um povo a ser arrebanhado para ideologias dominadoras. Mas sou otimista e confio que nossa geração já sabe discernir o que é bugiganga do que é instrumento para a dignidade dos seres humanos.

Falamos português, mas também falamos mandioca, canoa, jacaré. Gostamos de Big Mac mas amamos feijoada. Linda a Miami Beach mas, obrigada, já temos Natal e Fernando de Noronha.

E você, é da turma que vai aceitar espelhinhos e bugigangas?

por Janaína Soares Vieira Borghetti