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Quem define quando e como acaba uma pandemia?

Uma das questões que mais tem angustiado as pessoas é o fato de não termos uma previsão para o fim da pandemia de Covid-19, que colocou o mundo todo em quarentena para tentar reduzir a disseminação da doença e seus índices de mortalidade.

Dr. Murilo Neves, cirurgião e doutor em Cirurgia de Cabeça e Pescoço pela Unifesp, conta que grandes pandemias passadas foram encerradas por dois motivos principais:

– Médicos, quando a taxa de mortalidade realmente desabava, como ocorreu com a varíola. “No século XVIII, na Europa, 400 mil pessoas morriam por ano por causa da varíola. No século XX, estima-se que esse número pode ter ficado entre 300 e 500 milhões de óbitos e, em 1980, a OMS declarou a doença erradicada! Essa evolução graças à vacinação em grande escala”, detalha o médico.

– Sociais, ou seja, quando o medo da doença desaparecia, o que ocorreu com a peste bubônica. “A doença nunca desapareceu e ainda há casos, mas a melhoria das condições sanitárias e o surgimento de antibióticos ajudaram na sua derrocada. E, aparentemente, as pessoas perderam o medo da doença. O mesmo aconteceu com epidemias de gripe ao longo da história.”

Todas as pandemias vividas pela humanidade foram permeadas por um mesmo sentimento: medo. Dr. Murilo lembra que a epidemia de ebola de 2014 matou mais de 11 mil pessoas na África e causou pânico na Europa onde só três casos aconteceram. “Pacientes de origem africana que chegavam aos hospitais ingleses com sintomas de febre, dor de cabeça e gripe, que são os sinais iniciais de ebola, causavam medo e desespero. O pânico foi tanto que profissionais de saúde se recusavam a atender esses pacientes”, lembra o cirurgião.

O questionamento sobre o fim da pandemia tem muito a ver com o medo de sair e a retomada da vida social e da rotina. “É bastante provável que a pandemia de Covid-19 se encerre primeiro socialmente! As pessoas podem, literalmente, se cansar das restrições. Exaustão, depressão, angústia… tudo isso pode levar a um progressivo relaxamento das medidas de mitigação”, opina o cirurgião de cabeça e pescoço.

O surgimento de uma vacina e/ou tratamento eficaz também fariam a diferença no final da pandemia, mas enquanto isso não ocorre, é bastante provável que a pandemia de covid-19 se encerre primeiro socialmente. Para o especialista as políticas deveriam ser mais transparentes e com objetivos claros e definidos. Ficar constantemente mudando as regras de combate à pandemia sem motivos claros pode gerar mais estresse e preocupação.

“Até lá, torço para tomarmos as melhores decisões do ponto de vista social, político e econômico. Para que o nosso medo seja devidamente dosado, sem exageros. E que possamos aprender, com essa, a encarar as próximas pandemias de uma forma melhor e mais eficiente.” Finaliza Dr. Murilo Neves.

Dr. Murilo Neves
Especialidades: Cirurgia de Cabeça e Pescoço
Formação: Medicina pela Universidade de São Paulo – USP
Residência médica em Cirurgia Geral no Hospital das Clinicas Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP
Residência médica em Cirurgia de Cabeça e Pescoço pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP
Título de especialista em Cirurgia de Cabeça e Pescoço pela Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço – SBCCP
Doutorado em Departamento de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP
Professor afiliado da Disciplina de cabeça e pescoço da UNIFESP