Foi mantida a designação de medicamento órfão, destinada a produtos que tratam doenças raras, potencialmente fatais ou cronicamente debilitantes. A designação de medicamento órfão pela EMA indica que há benefícios diferenciados em relação às terapias existentes para pacientes com hemofilia A grave.
O Brasil tem a quarta maior população de pacientes com hemofilia do mundo. Estima-se cerca de 11 mil pessoas com hemofilia A, sendo 3600 adultos com a forma grave da doença,[1],[2]
Esta terapia não está aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
São Paulo, agosto de 2022 — A BioMarin anunciou que a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) concedeu a autorização de comercialização condicional (CMA) à terapia gênica valoctocogeno roxaparvoveque para o tratamento de hemofilia A grave em pacientes adultos sem histórico de inibidores de Fator VIII e sem anticorpos detectáveis ao sorotipo do vírus adeno-associado 5 (AAV5). É a primeira terapia gênica aprovada para hemofilia A que, através de uma infusão única, entrega um gene funcional projetado para permitir que o corpo produza o Fator VIII por conta própria, sem que haja necessidade de profilaxia contínua, o que alivia a carga de tratamento à qual os pacientes estão hoje submetidos.
Pessoas com hemofilia A têm uma mutação ou irregularidade no gene responsável pela produção do Fator VIII, proteína necessária para a coagulação sanguínea[3]. Estima-se que mais de 20.000 adultos em toda a Europa, Oriente Médio e África sejam afetados pela forma grave da doença.
“A aprovação na Europa representa um avanço no tratamento de pacientes com hemofilia A grave, ampliando a conversa entre médico e paciente sobre as escolhas de tratamento, que agora inclui uma única infusão”, disse o professor Johannes Oldenburg, diretor do Instituto de Hematologia Experimental e Medicina de Transfusão do Centro de Hemofilia da Clínica Universitária em Bonn, na Alemanha. “É emocionante imaginar as possibilidades dessa terapia gênica aprovada, que demonstrou uma redução substancial e sustentada da quantidade de sangramentos em pacientes que potencialmente podem ficar livres de uma vida inteira de infusões frequentes.”
Apesar de ainda não haver submissão do medicamento para avaliação e aprovação por parte da Autoridade Sanitária do Brasil, a autorização da EMA representa uma esperança para os pacientes brasileiros com hemofilia A com o perfil adequado para a terapia gênica. “Esse tratamento desponta como uma alternativa realmente transformadora para pacientes com hemofilia A grave”, afirma a Dra. Margareth Ozelo, diretora da Divisão de Hematologia do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM UNICAMP).
A especialista coordena diversos projetos de pesquisa, com ênfase em hematologia, incluindo o estudo global GENEr8-1 desta nova terapia gênica, com 134 pacientes com hemofilia A grave, submetidos a uma dose única de valoctocogeno roxaparvoveque. “A ocorrência de episódios hemorrágicos durante a profilaxia representa um grande fardo dessa doença, tratando-se de uma necessidade médica ainda não atendida para muitas pessoas. Os resultados do estudo clínico com valoctocogeno roxaparvoveque são encorajadores, considerando que durante o primeiro ano de tratamento 90% dos participantes do estudo tiveram zero sangramentos com necessidade de tratamento ou menos sangramentos com necessidade de tratamento pós-infusão de uma única dose de terapia gênica do que com fator VIII como profilaxia. Estes resultados refletem o potencial de controle hemostático sustentado com esta terapia gênica para hemofilia A”, completa a investigadora.
“O valoctocogeno roxaparvoveque representa um marco histórico na medicina, construído em quase quatro décadas de descobertas científicas, inovação e perseverança. Agradecemos à EMA por reconhecer seu valor como a primeira terapia gênica para hemofilia A; um feito que, acreditamos, transformará a forma como a indústria e a comunidade de pacientes pensam em cuidar de distúrbios hemorrágicos”, disse Jean-Jacques Bienaimé, presidente e diretor executivo da BioMarin. “Somos gratos aos pacientes, investigadores e comunidade que dedicaram seu tempo e esforço e forneceram a força motriz para tornar realidade esta terapia única.”
A EMA baseou sua decisão na totalidade dos dados do programa de desenvolvimento clínico de valoctocogeno roxaparvoveque, a terapia gênica mais estudada para hemofilia A, incluindo desfechos de dois anos do estudo global[4] de Fase 3, apoiado por cinco e quatro anos de acompanhamento das coortes de dose 6e13 vg/kg e 4e13 vg/kg, respectivamente, do estudo de escalonamento de dose de Fase 1/2 em andamento[5]. A BioMarin comprometeu-se a continuar trabalhando para monitorar os efeitos do tratamento a longo prazo.
A Agência Europeia de Medicamentos reconhece que o benefício à saúde pública da disponibilidade imediata no mercado supera as incertezas inerentes ao fato de que a ciência ainda é nova, como é o caso de qualquer terapia gênica, e o fato de que dados adicionais ainda são necessários. A BioMarin fornecerá mais dados de estudos em andamento dentro de cronogramas definidos para confirmar que os benefícios continuam a superar os riscos, baseando-se no que já constitui o maior pacote de dados clínicos para terapia gênica em hemofilia A. A conversão a uma autorização de comercialização definitiva (equivalente ao registro da Anvisa), dependerá do fornecimento de dados adicionais dos atuais estudos clínicos, incluindo o acompanhamento a longo prazo de pacientes inscritos no estudo pivotal GENEr8-1, bem como um estudo de corticosteroide profilático, para os quais o recrutamento já está encerrado.
Valoctocogeno roxaparvoveque mantém a designação de droga órfã, reservada para medicamentos que tratam doenças raras que ameaçam a vida ou que são cronicamente debilitantes (se considera que não afetem mais de 10 mil pessoas na União Europeia). Os medicamentos órfãos autorizados, uma vez aprovados, beneficiam-se de dez anos de proteção contra a concorrência de medicamentos similares em indicações semelhantes.
Programa Clínico Robusto
A BioMarin possui vários estudos clínicos em andamento em seu abrangente programa de terapia gênica para o tratamento da hemofilia A. Além do estudo global de Fase 3 GENEr8-1 e do estudo de escalonamento de dose de fase 1/2 em andamento, a empresa também está conduzindo um estudo de Fase 3B, de braço único e aberto, para avaliar a eficácia e a segurança de valoctocogeno roxaparvoveque em uma dose de 6e13 vg/kg com corticosteroides profiláticos em pessoas com hemofilia A (Estudo 270-303). Além disso, a empresa está executando um estudo Fase 1/2 com a dose de 6e13 vg/kg de valoctocogeno roxaparvoveque em pessoas com hemofilia A com anticorpos anti-AAV5 pré-existentes (Estudo 270-203), bem como outro Estudo fase 1/2 com a dose de 6e13 vg/kg em pessoas com hemofilia A com inibidores ativos ou anteriores do Fator VIII (Estudo 270-205).
Resumo de Segurança
No geral, a dose única de 6e13 vg/kg de valoctocogeno roxaparvoveque tem sido bem tolerada, sem tratamento de início retardado relacionado a eventos adversos. Os eventos mais comuns associados ao uso ocorreram precocemente e incluíram reações transitórias associadas à infusão e aumento leve a moderado de enzimas hepáticas sem sequelas clínicas de longa duração. A elevação da alanina aminotransferase (ALT) (113 participantes, 80%), medida em teste laboratorial da função hepática, permaneceu como a reação adversa mais comum. Outras reações adversas incluíram elevação de aspartato aminotransferase (AST) (95 participantes, 67%), náusea (52 participantes, 37%), dor de cabeça (50 participantes, 36%) e fadiga (42 participantes, 30%). Nenhum participante desenvolveu inibidores para o Fator VIII, eventos tromboembólicos ou malignidade associada ao uso de valoctocogeno roxaparvoveque.
Sobre hemofilia A[6]
Pessoas que vivem com hemofilia A não possuem proteína Fator VIII suficiente para a coagulação sanguínea e estão em risco de hemorragias dolorosas e/ou potencialmente fatais. Além disso, pessoas com a forma mais grave de hemofilia A (níveis do Fator VIII <1%) frequentemente vivenciam sangramentos dolorosos e espontâneos em seus músculos ou articulações. Indivíduos com a forma grave de hemofilia A compõem aproximadamente 50% da população acometida com a patologia. Pessoas com hemofilia A moderada (Fator VIII 1-5%) ou leve (Fator VIII 5-40%) apresentam uma propensão muito reduzida ao sangramento. O padrão atual de cuidado para indivíduos com hemofilia A grave é um regime profilático de reposição do fator VIII por via intravenosa até duas a três vezes por semana, ou 100 a 150 infusões por ano. Apesar desses regimes, muitas pessoas continuam a sofrer novas hemorragias, resultando em danos articulares progressivos e debilitantes, que podem ter um grande impacto em sua qualidade de vida.
Hemofilia A é uma desordem genética ligada ao cromossomo X causada pelo fator VIII ausente ou defeituoso, uma proteína de coagulação. Embora seja passada a indivíduos do sexo masculino através de mães portadoras da mutação, cerca de 30% dos casos (novos) são causados por mutação espontânea que não foi herdada. Aproximadamente 1 em cada 10.000 pessoas tem hemofilia A.
Sobre a BioMarin
A BioMarin é uma empresa global de biotecnologia que desenvolve e comercializa terapias inovadoras para pessoas com doenças genéticas e condições médicas graves e fatais. A empresa seleciona candidatos a produtos para doenças e condições que representam uma necessidade médica significativa não atendida, têm biologia bem compreendida e oferecem uma oportunidade de ser primeiro no mercado ou oferecem um benefício significativo sobre os produtos existentes. O portfólio global da companhia é composto por oito produtos comercializados e múltiplos candidatos a produtos em estágio clínico e pré-clínicos para o tratamento de diversas doenças.
1Link acesso em 19/08/2022
2Link acesso em 19/08/2022
3Ozelo et al. N Engl J Med. 2022;386(11):1013-1025.
4Link acesso em 19/08/2022
5 Pasi KJ et al Haemophilia. 2021;27(6) :947- 956
6 Nathwani AC. Gene therapy for hemophilia. Hematology Am Soc Hematol Educ Program. 2019 ;2019(1):1-8.