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Como evitar a procrastinação: uma dívida que se acumula

Especialista em neurociência comportamental fala sobre prejuízos que a procrastinação pode trazer para a vida

De acordo com estatísticas da Hootsuite, todos os dias, o brasileiro desperdiça cerca de 3h31 horas diárias com redes sociais. Estes dados não são estimativas, e sim números reais, levantados diretamente do celular das pessoas. São literalmente quase 2 meses a cada ano, todos os anos, subtraídos da vida.

Esses números impressionantes são provenientes de padrões cerebrais que nos levam para a procrastinação, quando a pessoa até deseja fazer algo, mas o cérebro dela não. Daí surgem as distrações, a desviada de olhar para redes sociais, a vontade de ir pegar um café, dentre outros comportamentos clássicos que geram um alívio momentâneo. Porém, que em geral não possuem volta, visto que a pessoa com este padrão tende a ir emendando comportamentos para fugir do que realmente ela deveria fazer. E, quanto mais ela ensina o cérebro esse padrão, mais ela vai se tornando procrastinadora.

Até que a pessoa chega em um ponto em que não importa o que decidir para ela mesma, ela perde o controle de si mesma. Agora imagine o inverso, como seria o mundo se esse comportamento não existisse? Seguramente não só o próprio nível de vida da pessoa estaria melhor, mas como este é um problema sistêmico, a humanidade teria atingido muito mais também. Mais criatividade, projetos incríveis, amizades, tempo para a família….

A procrastinação não ocorre só com redes sociais, este é “apenas” um exemplo. Mas ainda assim, imagine tudo o que poderia ser feito ao apenas aprender a reprogramar o cérebro para usar essas 3h31 horas diárias com mais direcionamento. Quanto menos tempo se aproveita de cada minuto do dia, mais isso demonstra que ainda há espaço para novos aprendizados, ainda mais na área de gerenciamento das capacidades cerebrais.

A procrastinação, por definição, é uma troca de prazer futuro pelo prazer imediatista, a curto prazo, afinal, é muito mais prazeroso assistir Netflix que lavar a louça, por exemplo, não é? Até que chega um ponto em que a louça se acumula tanto que o cenário caótico externo de desconforto e mal cheiro faz com que você tome essa decisão, já que a dor supera o prazer momentâneo. Mas aí você agiu por conta de algum fator externo, e não por sua própria decisão. Ou seja, não é uma decisão consciente. Por isso, separamos alguns conceitos importantes para que você possa refletir e evitar a procrastinação, em parceria com André Buric, especialista em neurociência comportamental, confira abaixo.

A procrastinação é a falta de gestão das capacidades cerebrais

O procrastinador não procrastina por acaso. O cérebro é uma máquina incrível e está constantemente mapeando e calculando o que acontece ao nosso redor: tanto os estímulos que recebe, quanto o esforço necessário. Sempre será mais estimulante a distração, e ela envolve menos esforço, então naturalmente será a preferência do cérebro. No entanto, se a pessoa não sabe gerenciar este processo, ela vai viver controlada por influências externas, como um animal faz. Todo procrastinador espera o último momento para entrar em ação, quando a pressão externa, seja dos prazos, do medo do prejuízo, ou do julgamento alheio ficam tão insuportáveis que ele faz o que precisa ser feito. Até lá, vai deixando tudo para depois, ocupando o tempo com qualquer outra coisa que traga prazer imediato.

A procrastinação pode ser anulada?

A procrastinação é uma força, assim como a gravidade. E da mesma forma, assim como a gravidade não pode ser eliminada, mas mesmo a existência dela não impede que um avião voe. É possível usar outras forças de maneira estratégica para sobrepor a procrastinação. Apesar dela existir como tendência natural, nosso cérebro pode aprender a procrastinar mais ou menos, tudo depende de como ele é estimulado. Assim como o ansioso se torna mais ansioso, o procrastinador se torna mais procrastinador porque foi treinado a preferir a gratificação imediata. Pouco a pouco, de forma inconsciente, ele vai intensificando o padrão, afinal foi ele quem ensinou o cérebro a agir dessa forma. Para isso, é preciso procurar a causa do problema, que está dentro de cada pessoa. Mais precisamente, nos estímulos que são oferecidos ao cérebro todos os dias, a cada segundo.

Não confunda procrastinação com descanso

É um fato que todas as pessoas precisam descansar. O descanso deve recuperar energia. As atividades que um procrastinador faz nem sempre servem para recuperar energia e sim, para fazer uma compensação que tira a mente dos problemas, faz a pessoa desconectar da própria vida. Esquecer o problema pode ser bom, mas só no curto prazo. A procrastinação é como um cartão de crédito, gerando prazer na hora do gasto, mas juntamente uma dívida que se acumula.

Escolher suas batalhas pode ser a solução

A procrastinação é um comportamento altamente destrutivo que pode deixar uma pessoa refém dela. Para viver uma vida de qualidade, experimentando a satisfação de participar do mundo, é preciso eliminar a procrastinação na causa e não no sintoma. É preciso aprender a encontrar razões claras que estão causando, e então agir para recondicionar o cérebro de forma estratégica para criar uma nova forma de agir. Evitando que esse padrão continue se fortalecendo.

Aprender a treinar o cérebro contra a procrastinação é, portanto, uma tarefa diária. Para quem procura ajuda neste sentido, André Buric está fazendo conteúdos diários no Instagram e Telegram para desmistificar a neurociência e ajudar a tornar esse seu treino cerebral mais direcionado e estratégico (@brainpowerbr).

André Buric