Pular para o conteúdo

7 perguntas comuns sobre cannabis medicinal

Mesmo com o significativo aumento da utilização da terapia canábica, ainda há muitas dúvidas sobre o assunto

O consumo de produtos à base de cannabis tem aumentado fortemente ano após ano. De acordo com dados divulgados recentemente pela Associação Brasileira da Indústria de Canabinoides (BRCANN), a comercialização nas farmácias avançou 304% no ano passado — foram 155,8 mil unidades entre janeiro e dezembro de 2022, contra 38,6 mil em 2021.

A importação também teve uma crescente: foram solicitadas 79.995 novas autorizações para importação de produtos medicinais de cannabis, o que representa um crescimento de 99% sobre os números registrados no ano anterior.

Esses números indicam um grande aumento do interesse das pessoas pelo tratamento à base de cannabis medicinal, algo que deve continuar crescendo em ritmo acelerado. Da mesma forma, existe também uma evolução das pesquisas sobre o produto, que tem se mostrado muito eficaz no tratamento de diversas doenças, sinalizando uma contribuição significativa para a melhora da qualidade de vida de muitos pacientes.

Segundo a médica da Clínica Gravital Amanda Medeiros, a abertura cada vez maior de mercado para o tratamento com a cannabis é uma evolução importante para diversos tipos de doenças. “Os componentes da cannabis, chamados de canabinoides, possuem poderoso potencial medicinal”, explica ela. Entretanto, apesar dos diversos benefícios, ainda existe muita desinformação ou até mesmo dúvidas sobre o assunto. A seguir, esclarecemos algumas delas.

Afinal, cannabis é a mesma coisa que maconha?

A Cannabis sativa L. é o nome científico da maconha. Ou seja, são a mesma coisa. Entretanto, para se referir à aplicação terapêutica dos componentes extraídos da planta, o termo que vem sendo empregadoé cannabis medicinal. “A planta cannabis sativa é composta por mais de 500 compostos químicos, incluindo THC e CBD, que são os canabinoides mais abundantes e estudados em humanos. Estes canabinoides têm características próprias e efeitos terapêuticos específicos”, explica o médico da Clínica Gravital André Cavallini.

Qual é a diferença entre CBD e THC?

A cannabis possui mais de 100 canabinoides já identificados e encontrados nas flores, folhas e caule da planta. Dentre esses, os mais conhecidos são o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD). “O THC é a substância que ‘dá barato’, mas isso só vai acontecer quando há uma grande concentração dessa substância. No uso medicinal, o THC não é utilizado com esse objetivo e conta com benefícios significativos, pois tem a capacidade de oferecer relaxamento, aumento de apetite, alívio de dores, etc.”, explica Amanda.

As leis brasileiras autorizam o uso da cannabis medicinal?

A Anvisa autorizou o uso terapêutico de cannabis medicinal em maio de 2015, por meio da RDC 17/2015. Essa resolução permitiu ao paciente importar o produto mediante autorização expressa da Anvisa e receita médica. Posteriormente, a RDC 327/2019 regulamentou inclusive a venda de produtos à base de cannabis em farmácias brasileiras. Mas, a oferta ainda é limitada e cara.

Com a escassez de produtos no Brasil, a solução para os pacientes é a importação. Apesar das simplificações, esse é um processo que costuma levar 30 dias desde a data da consulta até a data do recebimento do produto. “Uma vez que você passe por uma consulta médica, tenha a receita e esse produto seja autorizado pela Anvisa, você vai entrar no portal do Governo Federal, preencher o formulário e anexar documentos, como o de identificação e a receita médica. Se o médico prescritor for habilitado e os documentos e dados estiverem todos corretos, você receberá sua autorização de imediato”, afirma a médica Amanda.

De que forma é administrada a cannabis no tratamento?

Os óleos são a forma mais comum de administração da cannabis medicinal, mas dia a dia as pesquisas e estudos avançam e novas práticas surgem. A composição do óleo pode variar de acordo com a concentração dos canabinoides, como por exemplo: óleos com CBD isolado (puro), óleo rico em CBD com até 0,3% de THC, óleos balanceados com concentrações de metade de CBD e a outra metade de THC ou até mesmo óleos ricos em THC.

Há também óleos ricos em outros canabinoides e a prescrição vai depender do diagnóstico do paciente. No caso de produtos importados, há diversas outras formas de administração, já que eles são fabricados em cápsulas gelatinosas, gomas, sprays, tinturas, pastilhas, supositórios, cremes e pomadas. “É muito importante o acompanhamento de um médico na prescrição do tratamento e ao longo dele para analisar a evolução do caso e para que se debatam novas formas de uso e até novos produtos com canabinoides”, diz a médica.

Como a cannabis age no organismo?

Todos os seres humanos têm um sistema endocanabinoide. O médico André Cavallini explica que endocanabinoides são neurotransmissores à base de gordura que o corpo produz, responsáveis por uma variedade de funções corporais, incluindo a modulação da inflamação, função do sistema imunológico e neurotransmissores. “Os canabinoides encontrados na planta de cannabis, incluindo THC e CBD, podem ativar o sistema endocanabinoide no corpo e podem ajudar a resolver dores crônicas, enxaquecas, dores abdominais, inchaço e outros problemas”, diz.

Quais os benefícios da cannabis em relação a outras medicações?

Em comparação às alopatias convencionais, a cannabis medicinal possui a vantagem de ter menos efeitos colaterais, além de não haver risco de overdose ou problemas hepáticos por sobrecarga do fígado. “É necessário entendermos que os produtos criados para uso terapêutico contam com uma série de procedimentos que visam garantir a qualidade de vida dos pacientes. São produtos naturais, que contam com processos de testagens seguros e que oferecem uma solução economicamente mais viável e mais saudável do que produtos sintéticos”, explica a médica Amanda.

Em quais condições é possível utilizar o tratamento com cannabis medicinal?

Algumas delas são: anorexia, ansiedade, autismo, câncer, náuseas e vômitos induzidos por quimioterapia, dor crônica, depressão, distonia, epilepsia, síndromes intestinais, fibromialgia, enxaquecas, dores neuropáticas, dependência de opióides, cuidado paliativo, doenças, neurodegenerativas, polimialgia reumática, neuropatia pós-AVC, TEPT, radiculopatias, artrite reumatoide, espasticidade de condições neurológicas e tremores. “É importante entender que a cannabis medicinal não é uma panaceia e nem a cura para todo mal. Tudo vai depender de cada caso. Em algumas situações, os medicamentos à base de cannabis são associados ao tratamento alopático convencional, com o objetivo de trazer mais qualidade de vida ao paciente. Em outras, conseguimos fazer o desmame e, com o tempo, até mesmo a suspensão dos remédios tradicionais. Isso varia caso a caso e cada pessoa deve ser avaliada e acompanhada de perto por seu médico”, finaliza Amanda.