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Recesso escolar com inclusão: como entreter crianças com TEA nas férias sem sair da rotina

Especialista em educação e autismo orienta como adaptar a rotina durante o recesso escolar, garantindo bem-estar, segurança emocional e momentos de lazer para crianças com TEA.

O período de férias escolares pode representar um grande desafio para famílias de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A quebra da rotina, comum nessa época do ano, muitas vezes gera desconforto, ansiedade e até crises comportamentais. Isso porque a previsibilidade é uma aliada importante para o bem-estar de pessoas com TEA, que se sentem mais seguras quando sabem exatamente o que esperar de seu dia.

“A rotina funciona como um mapa para a criança com autismo. Ela oferece estabilidade, reduz a ansiedade e cria um ambiente mais seguro para que a aprendizagem e o desenvolvimento aconteçam”, explica a pedagoga Alessandra Freitas, especialista em aprendizagem e alfabetização de crianças autistas.

Por que a rotina é tão importante para crianças com TEA?

Uma das características do TEA são os comportamentos restritivos e repetitivos. Eles não são apenas manias ou preferências, funcionam como mecanismos de organização interna, oferecendo conforto, previsibilidade e ajudando a evitar sobrecargas sensoriais. Por isso, quando a estrutura diária oferecida pela escola, terapias e demais compromissos habituais é interrompida, como nas férias, é comum que a criança se sinta mais desorganizada emocionalmente.

“Novos hábitos podem e devem ser introduzidos, mas de forma gradual, com tempo para adaptação e muita sensibilidade por parte dos cuidadores”, ressalta Alessandra.

Como preparar a criança com TEA para o recesso escolar?

Um dos caminhos mais eficazes é a elaboração de uma rotina adaptada para o período de férias. Montar um calendário visual com fotos, desenhos ou símbolos ajuda a criança a entender o que vai acontecer em cada dia, inclusive no retorno às aulas. Planejar com antecedência atividades e passeios também contribui para criar um ambiente mais previsível e seguro.

Seis dicas para uma rotina de férias divertida e estruturada

Mesmo que a família opte por passar as férias em casa, o tempo pode ser agradável e enriquecedor para todos. Com organização e empatia, é possível manter uma rotina leve, respeitosa e estimulante. Confira as orientações da especialista:

  1. Atividades sensoriais prazerosas
    Massinha, pintura com os dedos, brincadeiras com água ou areia: experiências táteis e visuais ajudam a relaxar e estimulam a criatividade, além de promoverem conforto sensorial.
  2. Brincadeiras com começo, meio e fim
    Jogos de montar, tabuleiros ou leitura compartilhada são ótimos para reforçar a comunicação e habilidades sociais, sempre de forma divertida e com estrutura clara.
  3. Use reforço positivo
    Valorize atitudes e comportamentos desejáveis com elogios, adesivos ou pequenas recompensas, preferencialmente relacionadas ao interesse da criança (inclusive os hiperfocos).
  4. Respeite as pausas e o silêncio
    Tenha um espaço calmo em casa onde a criança possa se recolher quando quiser. O tempo de descanso é essencial para autorregulação emocional e bem-estar.
  5. Intercale o novo com o familiar
    Apresente novidades gradualmente, sempre alternando com atividades já conhecidas. Isso oferece segurança e evita sobrecarga de estímulos.
  6. Avise quem estiver por perto
    Se a programação incluir visitas a amigos ou parentes, informe previamente sobre as necessidades específicas da criança. O uso de símbolos de identificação, como o cordão de girassol, também pode ajudar a garantir acolhimento e acesso a direitos.

Dá para viajar com crianças com TEA? Dá, sim, e com prazer!

Mesmo que muitas famílias optem por ficar em casa, viagens também são possíveis, desde que bem planejadas e voltadas para destinos preparados para receber pessoas atípicas. Veja algumas sugestões de locais com estrutura acessível e sensorialmente amigável:

  • Parques temáticos com atendimento preferencial: Beto Carrero World (SC) e Parque da Mônica (SP) oferecem protocolos de acessibilidade, filas preferenciais e ambientes adaptados.
  • Contatos com a natureza e atividades educativas: O BioParque do Rio e a Fazendinha Pet Zoo (SP) possibilitam experiências sensoriais agradáveis com animais e espaços ao ar livre.
  • Ambientes com acessibilidade sensorial: Locais como o Terra dos Dinos (RJ) e o Oceanic Aquarium (SC) investem em ambientes com iluminação e sons controlados, ideais para crianças sensíveis a estímulos.

Férias mais leves para todos

Passar as férias com uma criança autista exige atenção e sensibilidade, mas pode ser uma oportunidade valiosa de conexão e crescimento em família. Manter uma rotina adaptada, respeitar os limites e investir em momentos significativos, ainda que simples, faz toda a diferença.

“Não é necessário preencher cada hora com atividades. O descanso também é fundamental. Ao promover experiências positivas e reforçar os comportamentos com carinho e paciência, as férias podem se transformar em uma etapa de fortalecimento dos vínculos e do desenvolvimento da criança”, finaliza Alessandra.

Dicas para incluir aprendizado na diversão do recesso escolar